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sábado, 16 de outubro de 2010

O rebanho

O rebanho
Luciano Palm
          Civilização e cultura, os maiores orgulhos e bastiões da humanidade são, em verdade, as grandes amarras que prendem o animal e transformam o ser humano em um ser doméstico e dócil. O animal adestrado, este poderia ser também o outro nome para o homem civilizado. Toda a maquinaria cruel da civilização, em que estão presentes as penas, os castigos, todas as instituições de ensino, cura e ensino, além do sentimento de culpa, transformou, por um lado, o ser humano em um ser gregário e, por outro, criou toda a cultura (os costumes, as artes, as ciências e a Filosofia). Contudo, há (e sempre haverão) os indomáveis, isto é, aqueles que preferem (e preferirão) levar uma vida digna de ser vivida, mesmo sob o risco de uma morte iminente e prematura, do que levarem uma vida medíocre.
          Porém, duros golpes se abatem contra tudo e todos aqueles que são fortes e clamam por vida em uma civilização de moribundos e fracos. Ao verem sua ação exterior coagida e impedida, ela passa a se voltar contra sua própria interioridade e o repouso toma o lugar da ação, ou como disse Nietzsche na Genealogia da Moral, "a ação se efetivará como narcose, entorpecimento, sossego, paz, distensão de ânimo e relaxamento dos membros". Assim, as relações reais e a vida real passam a ser, cada vez mais, representadas e vivenciadas atrvés do meio midiáticos, de tal forma que, o real se torna cada vez mais imaginário e lúdico e o imaginário, por sua vez, torna-se cada vez mais real, isto é, a vida civilizada, ansiosa pela isenção dos riscos e perigos da realidade, passa a ser meramente assistida a partir do conforto e da segurança de uma poltrona.
           Com a modernidade e todo o seu desenvolvimento científico e tecnológico, o que observamos é o rebaixamento do ser humano a uma massa uniforme e impessoal. Nesse sentido, felicidade passa a ser sinônimo de conforto, bem-estar e ausência de sofrimento, temos o nosso prazerzinho para o dia e nosso prazerzinho para a noite, e, quem sentir e viver de outra maneira vai voluntariamente para o hospício, como disse Nietzsche. Talvez, em alguns casos, o hospício seja até mesmo mais saudável do que esta civilização cadavérica. O que seria o homem moderno senão o retrato falado do último homem do Zaratustra de Nietzsche? Desse modo, diante desse cenário, a meu ver, temos duas alternativas possíveis: 1) Fazer como os últimos homens, piscarmos os olhos uns aos outros e dizer: "Inventamos a felicidade!" E continuar procurando o canal que mais nos atraia ou distraia (risos); 2) Ou então, virar a mesa e mergulhar fundo no animal e reacender a centelha de vida que ainda há nele, desafiando novos perigos, trilhando novas veredas, vivendo como a vida merece ser vivida, intensa, desafiadora, perigosa sim, mas plena e não pela metade.

2 comentários:

  1. Adorei teu texto!! melhor achei fantastico!!
    muito bem escrito e acho que eu fui tua musa inspiradora ou nao?!

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  2. Foi e sempre será meu amor hehehe!!! Teu sentimento, teu amor, teu carinho, tua atenção é a coisa mais preciosa que conquistei nesta vida, nada é mais grandioso e valioso para mim!

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