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domingo, 31 de julho de 2011

O meu mundo é o teu mundo

O MEU MUNDO É O TEU MUNDO
(Parte I)
Tatiana Betanin Palm
          O meu mundo é um mundo desencantato, primeiro, porque é unicamente a razão - capacidade racional e calculista do humano- que serve de meio de explicação, compreensão, dominação e controle sobre o mundo humano e natural, segundo, porque a ciência com sua técnica, quebra a unidade do mundo (garantida pela religião). A ciência estilhaça o mundo e o explica em cada fragmento, friamente, calculadamente, logicamente. Ela desencanta porque, mais do que dizer que nosso mundo não é uno, mais do que quebrar o elo de ligação entre aquilo que existe, mais do que promover a desconexão entre as partes e o todo e isolar cada coisa-fato-acontecimento existente a um espaço, ela é incapaz de dar um sentido objetivo ao que existe. Se antes, pelos os olhos da religião via-se um sentido no mundo humano e natural, se existia um porque para tudo ser como é, se, mais primitivamente ainda, em um mundo mágico cada ação humana possuia um significado de ser, agora, com a ciência tem-se a falta de sentido. A ciência ao quebrar a conexão (entre aquilo que existe), ao promover a fragmentação (para poder explicar aquilo que existe) acaba por promever a objetificação do mundo e, assim, um esvaziamento de sentido, gradual e radical (observado nas mais diversas esferas da vida humana).
          Em meu mundo racionalizado, esclarecido, científico, e, por isso mesmo, desencantado resta ao humano criar o sentido, atribuir um significado as coisas, as suas ações, enfim, a sua vida. Ou seja, se não há mais um sentido metafísico, transcendente, então, é necessário um sentido imanente, humano, sim, porque uma vida sem sentido não vale a pena ser vivida. O sentido é o motor que nos move, que nos põe em movimento, que nos faz querer permanecer vivos. O caso é que se meu mundo está fagmentado, desconectado e sem sentido objetivo, como posso eu, enquanto ser-no-mundo, criar um sentido objetivo. É óbvio que a tendência é cada um criar um sentido para si, quero dizer, um sentido subjetivo que funcione como móvel de sua ação, como justificativa-fundamento de sua existência mundana. Eis como se dá a morte dos ideias objetivos! Eis o impedimento do nascimento dos “heróis“ do nosso tempo! Nós os desencantados com os encantos da moderninade, mas, incapazes de sustentar um ideal que vai além dos objetivos de vida de um ser comum existente de um mundo científico-capitalista. Hoje somos incapazes do sacrificio, porque estamos demasiadamente ocupados com a nossa sobrevivência, estabilidade financeira, nossas realizações pessoais (sonhos pequenos). O caso é que “a vida não pode ser só comer, dormir, obter e gastar dinheiro, tenho certeza que a maioria das pessoas, hoje, no mundo morre por causa disso”. A vida é muito curta para ser tão pequena!
          O meu mundo temporal-histórico-cultural desempenha um papel importante na formação da visão de mundo e na concepção dos ideais de vida a serem perseguidos. Em meu mundo desencantado, mundo em que o capital, o produto da produção se auto-alimenta, mundo em que as pessoas são força-de-trabalho, mercadoria, coisa, é possível se reencantar? Isso parece ser possível apenas se criarmos novas bandeiras de luta, novos ideias de vida, ideais que transcendem o paticular em nome do universal (objetivo). Em nosso inconsciente coletivo ainda mora o desejo do universal, de uma utopia objetiva, que realmente faça a vida valer a pena. E sinal disso é o fato de que pessoas, que andam por aí economicamente satisfeitas se sentem desencantadas, vazias, decepcionadas e andam buscando recriar um novo modelo de vida, um modelo de vida mais sustentável. Seres, do meu mundo, estão abrindo mão de seus ideais particulares (ter casa, carro, uma conta bancária) em nome de um utopia maior que se resume no fato de resgatar o equilibrio por meio de uma volta a um modelo sustentável de vida comunitária integrada ao todo (natureza). Talvés seja isso: a busca por um novo modo de vida a saída para os desencantos do mundo racionalizado, científico, objetificante e capitalista. Será, então, isso a nova bandeira de luta dos desencantados com os encantos da ciência, da técnica, do poder econômico?. Será a sustentabilidade o reencatamento do mundo ou da modernidade? Criar um modo de vida sustentável, comunitário, interconectado, harmonioso tornou-se uma utopia a ser perseguida, e, magicamente, é dessa maneira que nós, seres estranhos, andamos por aí nos sentido mais completos, plenos, saudáveis, equilibrados e felizes.

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