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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O ser da intempestividade


O SER DA INTEMPESTIVIDADE
Tatiana Palm
           Desde a muito eu questiono, em silêncio, a que se pode comparar o estado de espírito que acomete as mulheres de tempos em tempos e não encontrei uma comparação mais adequada senão à tempestade. Tu me perguntas o que deves fazer diante do feminino estado intempestivo, e, eu digo: não faças nada apenas deixe-o passar para depois ver como fica. Seja o que for que me acontece eu posso (não sem dificuldades) te dizer e tu encontrarás um nome para isso. Te pergunto: o que se pode fazer diante de uma tempestade? É preciso esperar passar para daí calcular os danos, prejuízos, os estragos e, então, recomeçar. No feminino estado intempestivo não é muito diferente, só quando a intempestividade passar é que se pode visualizar os estragos ou o que restou do que era, enfim, se percebe se a acometida segue sendo a mesma ou outra qualquer. Certo é que uma desordem insana nunca deixa de refletir no outro. Ao vivenciar uma tempestade é inevitável ao outro sentir grandes incômodos sem, no entanto, ter sequelas. O que tu queres, pois, é grande, de máxima importância e próximo de um deus: não ser abalado, não ser incomodado. É demasiado humano querer o que te causa alegria e prazer e não o que te causa dor e desprazer, porém, não podes querer estar no mar sem ser atingido pelas suas agitações. Sim, porque o mar, mesmo tranquilo, sempre pode ter certa agitação e não raramente tormenta.
          Depois de uma tormenta, bastante frequentemente, a mulher volta a ser o que era. É possível voltar a ser a mesma apesar de tão insano estado tempestivo distorcer as coisas retas e certas e deixar pouco segura a estabilidade de um relacionamento. Essa desordem, que só se organiza no recolhimento, se espalha livre e descontroladamente quando não é coagida a se recolher no interior. Se é silenciada ou comunicada, não importa, ela mantém em suspenso todas as esperanças e ilusões, não suporta o outro, a casa, a solidão, as paredes. Nela a realidade ganha outros tons, outros significados, o que é familiar se torna estranho, o que é bonito se torna feio, o suportável passa a ser insuportável. Todos os vícios alheios que são tênues em outra ocasião agora se agravam, toda e qualquer palavra ouvida ganha um significado suspeito. O caso é que tudo simplesmente se agrava. Certas desconfianças e suposições escondidas e obscuras ganham corpo, ganham vida, viram monstros indomáveis. Como inimigos escondidos se apresentam na ocasião oportuna e ferem o outro e não menos a si mesma. De fato, o estado intempestivo é lamentável e incômodo, porém, nele não se está doente nem sã, apenas se vê tudo de um outro modo, de forma disforme, confusa ... e menos verdadeira? Eis a suspeita: onde está a verdadeira compreensão da realidade e do outro que vive ao lado, no olhar intempestivo e aparentemente insano ou naquele olhar suspeitamente normal e acostumado as coisas? É inevitável, desabrocha da intempestividade uma contenda, todavia, prosseguimos porque ela não existe verdadeiramente ... as opiniões divergentes e confrontantes defendem o mesmo lado.

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