Melodia para a vida
Luciano Palm
"Sem música a vida seria um erro" Nietzsche
A partir de agora, eu gostaria de refletir um pouco sobre a música e sua importância para a vida. Apesar de Adorno e Benjamin terem abordado muito bem o processo de atrofiamento da experiência estética contemporânea, ainda assim, a arte em geral, e, a música em especial, são fundamentais para a vida (ou ao menos para a sua suportabilidade). Em outro escrito, falei sobre a primazia e a importância da audição na formação da espiritualidade humana. Contudo, não é necessariamente esta primazia e importância que me fazem agora destacar a música dentre as demais artes.
Naquele escrito, tratava-se de refletir sobre a formação da espiritualidade humana, ou seja, sobre a formação da humanidade do ser humano. A espiritualidade, nada mais é, do que a capacidade humana de agir pela liberdade, livre de determinações causais necessárias (naturais), é a capacidade de pensar, sentir, agir e se relacionar especificamente humana, isto é, consciente de si e de sua finitude (consciente de sua morte). Considero necessário esclarecer o que entendo por espiritualidade, de modo a desfazer qualquer mal-entendido, que pudesse relacionar tal expressão à experiências místicas ou religiosas (embora a experiência musical também possa sucitar tais estados).
Mas, voltemos à música, para entender o que Nietzsche quis dizer com a frase que serve de epígrafe para esta reflexão, podemos fazer a seguinte experiência: Pensemos um filme ou uma tele-novela sem trilha-sonora, pois bem, este seria analogicamente o resultado da existência humana sem música. A princípio, músicas servem de trilha-sonora para nossas vivências, sejam elas positivas ou negativas, para cada momento há uma música a embalar nossas alegrias ou frustrações, nossas vitórias ou fracassos. Porém, não é apenas isto.
Quando Heidegger construiu sua analítica-existencial, ele colocou os estados de ânimo como uma estrutura-prévia do ser, que determinam diretamente a existência sem, no entanto, poderem ser determinadas pelo existente (ou o dasein em sua linguagem). Pois bem, acredito que seja justamente aí que a música cumpre o seu papel mais fundamental, isto é, como aquele elemento que (não domina) mas embala e canaliza os estados de ânimo, de modo a que eles não se tornem obstáculos ou um desaranjo para a harmonia existencial, mas, pelo contrário, que coloque a energia latente dos estados de ânimo no devido canal para a edificação do existente (e não de sua destruição ou colapso). Eis a grande e fundamental função da música, servir de melodia e trilha-sonora de nossas existências, a fim de conduzirem nossos estados de ânimo na direção de nossas intenções mais nobres e edificantes.
E não importa muito o estilo de música, eu mesmo vou de Beethoven à Sepultura (risos) e todos estilos me falam muito alto, podendo-se acrescentar também Ramones, Pearl Jam, The Who e mais recentemente Kings of leon. Além disso, a música "Poema" (letra de Cazuza que foi musicada por Ney Matogrosso) considero perfeita, assim como, "Imagine agora" de Dante Ramon Ledesma, que ouvia várias vezes seguidas em minha adolescência e ainda hoje a ouço com entusiasmo. Ah, a "Nona sinfonia" de Beethoven, por exemplo, que era ouvida todas as manhãs nos tempos de faculdade e sempre falava (e ainda fala) altíssimo para mim, causando inclusive sinceros arrepios. Contudo, não estamos aqui para comentar a minha trilha-sonora, cada qual tem e faz a sua própria melodia. Então, que toque a música, embalemos nosso sentir, encontremos a melodia ideal e mais sonora para nossas existências.
Muito bom o paragrafo em que falas de Heidegger e da funçao da musica. Acho que conseguiu perceber uma funçao da musica que ninguem mais percebeu. Nao tem como nao concordar contigo. A musica, com certeza, consegue traduzir o que muitas vezes è obscuro para nos mesmos e, mais do que isso, auxilia a transformar a nossa desordem interior em arte.
ResponderExcluir