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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A dama da noite

A dama da noite
Luciano Palm
         Qual seria o lado escuro da consciência? Quem é esta dama da noite da razão? A loucura, ela é certamente o oposto, o contrário, da razão, ou seja, ela é a própria des-razão. Contudo, o mergulho no irracional, esta verdadeira dança ou flerte com a dama da noite, isto é, com a loucura, apesar de todo sofrimento, dor e até mesmo de possíveis traumas que possam advir e decorrer desta experiência, também tem seus aspectos positivos (mesmo que seja uma positividade advinda da dor e da negatividade).
          Não digo evidentemente, que alguma pessoa deva, deliberada- e intencionalmente buscar a loucura como uma experiência existencial. Ninguém deve de livre e expontânea vontade flertar com a dama da noite, pois, ela poderá encaminhar aquele que cometer tamanha leviandade à perdição definitiva e absoluta. Desse modo, é aconselhável manter uma segura distância de tão perigosa dama. No entanto, como disse anteriormente, há também aspectos positivos nessa sofrível experiência. Mas, quais seriam eles?
           Pois bem, Heidegger (e não apenas ele, mas vários filósofos) caracterizaram a existência como um constante processo de construção e des-construção. Nesse sentido, quanto maior a des-construção, igualmente maior será a construção, quanto maior o abismo, maior terá que ser o salto a fim de superá-lo, isso é uma consequência lógica. Desse modo, não há des-construção possível que possa ser maior que aquela operada pela experiência da loucura em um ser humano, assim, o trabalho de reconstrução da existência, necessária após tal experiência (o recolhimento dos cacos, a recostura da colcha de retalhos da existência) implica em um trabalho hercúleo que exige uma força descomunal, que inevitavelmente aumenta o vigor, a resistência e a vitalidade daquele que consegue operar tal esforço com relativo sucesso (digo relativo porque é impossível reconstruir-se integralmente após tal experiência). Para finalizar, não raro, a dama da noite é alvo de chacotas, deboches e menosprezo de parte de levianos indivíduos que acreditam construir suas existências sobre uma rocha sólida, a que denominam de sanidade ou normalidade. Nada é mais estúpido e leviano do que isso, a linha que separa qualquer pessoa da loucura, o limite entre a sanidade e a loucura é extremamente tênue e frágil, a qualquer momento a dama da noite pode irromper o salão e nos convidar para a sua dança, nesta, é ela quem ditará o ritmo e o compasso, não nós. Para encerrar definitivamente esta reflexão deixo um ditado, de autor desconhecido, para a reflexão a respeito de tudo o que aqui foi dito:

Os loucos, são os loucos. Os normais, são os outros. E nós?

Um comentário:

  1. Sabe-se que toda dama tem la seus encantos, e, por isso, è cortejada. E' aconselhavel nao se entregar para dela nao virar escravo. Como voce bem disse: " é aconselhável manter uma segura distância". Se caso caires em seus encantos e tiveres força para dela fugir, sim, nao podera jamais ser o mesmo porque algo de ti se perdeu nela e algo em ti de novo nasce.

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