Animal político
Luciano Palm
Aristóteles, em Política , disse que o ser humano é um animal político por natureza (um zòon politikòn), que alguns traduzem equivocadamente como "animal social por natureza". Embora a maiorira das pessoas digam não gostar de política, geralmente, por alienação ou ignorância, porém, não há como negar que nossas vidas são diretamente determinadas e influenciadas pelas decisões políticas. Então, ignorar a política significa colocar o próprio destino em mãos alheias. Todo silêncio em questões políticas é um claro sinal de conivência e apoio à ordem vigente, ou como disse Sartre: Todo silêncio é reacionário.
Esta reflexão foi motivada por uma conversa que tive com minha esposa que, no momento, está em Sorrento (Itália), vivendo com seu irmão. Segundo o que penso, o jogo político mundial está prestes a virar a mesa, os antigos grandes senhores do mundo (nomeadamente os países da comunidade européia e os EUA), dão claros sinais de fraqueza, enquanto que antigos pobres coitados (como Brasil, Índia e China) anunciam-se como as novas potências do mundo. É claro que, dito desta forma, a princípio, parece se tratar de um completo devaneio de minha parte.
Contudo, digo isso, baseado em alguns dados, algumas evidências e alguns fatos. Recentemente, a Grécia literalmente desabou economicamente e se obrigou a fazer pesados empréstimos de outros países da comunidade européia. Outros países europeus também se encontram em uma situação econômica delicada e complicada (alguns beirando o colapso). Do outro lado do Atlântico, os "todo-poderosos" EUA, estam encontrando enormes dificuldades para sair do atoleiro de uma crise financeira que parece não ter fim. Enquanto isso, países como o Brasil e a Índia, historicamente endividados com os fundos internacionais, com sérios problemas internos e com uma economia instável, parecem estar dando a volta por cima, isto é, mudando positivamente os seus cenários, tanto os internos quanto os externos. É verdade que a situação interna destes países ainda está muito distante da ideal (inclusive da aceitável), mas não há como negar que houve progressos significativos (a economia está estabilizada, a dívida externa está quitada, a imagem e a credibilidade externa destes países está fortalecida, etc.). Falo mais a partir da perspectiva brasileira, mas incluo a Índia nesta descrição de acordo com os comentários que ouço. Por outro lado, temos ainda a China (esta gigantesca incógnita), politicamente comunista, economicamente capitalista, além de ser o país mais populoso do mundo. A China, atualmente, é o único país a tomar medidas cautelares para que sua economia não cresça excessivamente, enquanto todos os demais países do mundo choram lágrimas de sangue para verem suas economias alcançarem crescimentos modestos. Desse modo, a China reúne (ao menos aparentemente) todas as condições para se tornar a nova grande potência política e econômica do mundo, sobretudo econômica.
No entanto, voltando à reflexão a respeito da situação da comunidade européia, podemos observar que alguns países, nomeadamente Alemanha, Áustria, Suíça, Inglaterra e França (mas sobretudo a Alemanha), mantêm a posição de vanguarda e de hegemonia da europa no mundo, sob duríssimas penas é verdade. Os países mencionados, sustentam seus vizinhos as custas de altíssimos empréstimos, impedindo que estes caiam sobre as próprias pernas. A falência da Grécia, as situações delicadas e problemáticas vivenciadas por portugueses, espanhóis e do sul da Itália (em iminência de crise), são sinais claros dos riscos de uma possível futura ruína européia. Associada a esta situação econômica problemática, temos ainda, por outro lado, o esgotamento dos recursos energéticos naturais e a diminuição da mão-de-obra ativa e produtiva do continente europeu. Este cenário pode acarretar futuramente, uma séria crise política no continente, podendo inclusive desencadear guerras, principalmente entre os atuais países credores e aqueles mergulhados em dívidas, convulsões sociais e profundas crises políticas.
Após esta breve reflexão, que se apresentou mais como um diagnóstico pessoal e subjetivo (mas fundamentado em elementos empíricos e objetivos) da situação política global; eu gostaria de expor e esclarecer meu posicionamento e minha compreensão frente a política. Nesse sentido, antes de mais nada, sou socialista e não vejo qualquer motivo para não o sê-lo. Digo isso, em primeiro lugar, porque considero importante sempre saber com quem se está dialogando (detesto e desprezo os "fantasmas" que se escondem atrás de uma falaciosa neutrlidade científica, filosófica, artística ou o que quer que seja), em segundo lugar, exponho minha condição de socialista, apesar do fracasso das experiências históricas objetivas levadas a cabo até hoje (URSS, Cuba, Coréia do Norte e também a China), fracassos esses que, segundo argumentação de alguns marxistas, se devem ao esquecimento do devido processo revolucionário descrito por Marx, mas não entrarei neste mérito no momento.
Porém, apesar disso, acredito firmemente que a construção de um mundo melhor, mais humano (e inclusive mais viável para as gerações futuras), só se dê através do fomento de sinceras e efetivas relações de fraternidade e de solidariedade, o que não é possível no interior do sistema e do espírito capitalistas, baseados na competição selvagem e no consumo predatório.
é a queda do velho mundo!! quanto aos homens do novo mundo me parece faltar a espiritualidade para que valores como a solidariedade e a fraternidade venham se desenvolver. Espiritualidade aqui entendo como aquilo que se encontra por meio da reflexao, do voltar sobre si mesmo. Quando o ser humano, seja de que parte do mundo for, encontra a si mesmo, quando ele tomar consiencia do divino que ele tem dentro de si, simultaneamente, exterioriza isso no seu estar-com os outros. Quanto ao sistema economico e de governo me parece que muitas comunidades alternativas (eco vilas)vem se desenvolvendo em todo o mundo e com uma organizaçao economica e politica que se afasta muito do que conhecemos como democracia e capitalismo. Talvez uma revoluçao seja feita nao por intelectuais ou pessoas esclarecidas mas por uma mudança de comportamento e organizaçao que toma como paramentro esse tipo de comunidade.
ResponderExcluirBjo
Realmente, uma queda do velho, do novo... uma possível queda do mundo. Sem ser catastrófico, mas devemos estar cientes do que enfrentamos. A crise econômica é apenas uma das expressões por que estamos passando. A qual, pela centralidade do econômico no capitalismo, acaba por abafar as outras crises. A última expressão disto foi o abafamento da crise alimentar mundial por que passamos em 2008 (que gerou varios protestos ao redor do mundo) foi em grande parte abafada pela crise economica do segundo semestre de 2008. Mas a crise alimentar não teve soluções efetivas ainda, somente paliativos. E uma das questões que está vinculada a mesma, nos leva a outra crise central a ser enfrentada, nosso modelo agrícola mundial, esta diretamente pautado em combustiveis fósseis (com interessante experiência de Cuba, que foge a esta lógica); como também esta é uma de nossas maiores fontes energéticas. Por um lado, esta fonte de energia, como muito bem sabemos é limitada, e em breve deve demonstrar mais claramente seus limites, além de conter altos indices poluentes. De relevância para a tentativas de enfrentarmos estas crises, são as políticas, mas no que não podemos negligenciar a grande crise mundial da 'democracia liberal'... Enfim, as crises são multiplas, sendo pra mim, em concordância com o apontado, a de maior relevância, está vinculada as crises de nossos sujeitos históricos, enquanto sujeitos. E não poderia deixar de ser diferente, pois são estes que formam e são condicionados por este contexto histórico critico. Lógico que existem expressões de relevo para sairmos desta crise (ecovilas, por exemplo), mas se estas experiências não travarem a luta pela hegemonia, voltando-se apenas ao 'local', não acredito muito que estariamos distantes da opinião daquele, que no final de sua vida, apontando com nosso raciocinar tecnicista (apenas possível de ser superado pelo inaudito, talvez impossível) talvez não tenhamos saída. Restando-nos esperar o único que este filósofo pensava poder nos salvar "um deus".
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