respire

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domingo, 19 de setembro de 2010

Fluxo constante

Fluxo constante
Luciano Palm
          Heráclito estava certo, a vida é um incessante fluir, um fluxo ininterrupto, tal qual as corredeiras de um rio que conduzem constantemente suas águas em direção ao mar, e este movimento só é interrompido, quando a fonte de onde a água brota secar. A vida é fluir, mas não deve ser uma torrente furiosa e tumultuada, serenas águas devem escorrer por este rio, o fluxo é constante, o movimento não pára nunca, mas tal movimento não implica em um frenesi tresloucado, nervoso, afobado e neurótico.
           Desse modo, eu comparo a existência com o ato de surfar, de pegar onda (embora nunca tenha surfado, apesar de já viver a quase 6 anos perto do mar e sempre ter tido vontade de praticar este esporte). Pois bem, mas vamos à analogia entre a existência e o surfe, assim como no surfe, na existência é o existente que ingressa em algo que já está em movimento (a onda, a vida) e nela precisa encontrar o equilíbrio necessário (ou a harmonia) para acompanhar o movimento sem desabar. Contudo, há pessoas que vivem tomando vaca da vida constantemente, ou seja, a todo momento a onda está quebrando em suas cabeças, deixando-as desnorteadas, desorientadas e sem fôlego, tudo isto, por não terem encontrado uma condição harmônica em suas existências.
          Para desfrutar o mais prazerosamente possível esta existência, que é só devir e nada mais, devemos viver do mesmo modo como brinca uma criança, despretensiosa, simples, inocente e serena.
Não contraiam seus nervos e músculos, façam seus diafragmas funcionarem, fortaleçam seus pulmões, pois, a vida não é sopro apenas em seu primeiro momento, senão por todo seu percurso. Estas seriam algumas dicas gerais que eu daria a quem queira desfrutar deste fluir incessante, que é a existência, de modo mais harmônico e sereno. No entanto, como disse em outra ocasião, não há receita possível para a existência, cada qual segue seu próprio rumo e a sua maneira.
           Outra coisa muito acertada dita por Heráclito é a seguinte: Não se entra duas vezes em um mesmo rio. Sim, pois, na segunda vez que eu entrar, as águas do rio já não serão as mesmas, nem eu. A cada aurora é uma nova pele que reveste o meu ser, é uma nova voz que expressa minhas angústias e inquietações, são novos olhos a admirar (e se indignar algumas vezes também) o que se passa a minha volta. E para encerrar esta pequena, mas valiosa reflexão, gostaria de lembrar um importante alerta do Zaratustra de Nietzsche, não esqueçamos nunca de cuidar do corpo nessas andanças na existência, porque mesmo os pensamentos, em última instância, também são corpo (ou uma expressão que só ocorre através dele). Não há um suposto espírito descolado do corpo, afinal, tu (e eu também é evidente) és pó e ao pó reverteres, não há como fugir disso. Todo este fluir, todo este movimento incessante que é a existência humana tem na morte o seu ponto de chegada, até lá, tudo é movimento, dança, ritmo e frequência.

2 comentários:

  1. So pelos lamentos de que nada comentei ...
    o texto ficou bom especialmente o paragrafo que fala da onda e da existencia. Se o mar é a vida, o que seria estar por cima da onda?? o que seria vencer a onda??
    Bjo

    P.S ve se me responde as perguntas, pois gosto de ouvir tuas respostas.

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  2. Estar na crista da onda é estar neste estado de harmonia existencial. Quem disse que a onda precisa ser "vencida", não, ela não precisa ser vencida, devemos apenas dropá-la (pegá-la) da melhor maneira possível. Afinal, este espírito competitivo e predatório só tem atrapalhado e complicado a humanidade.

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