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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Mística

Mística
Luciano Palm
          Refletirei agora sobre algo que desconheço quase por completo (risos), a mística e a espiritualidade. Resolvi falar sobre esse tema impelido por uma necessidade pessoal.
          Inicialmente, entendo por mística um conjunto de ritos e rituais que tem por objetivo a integração e a harmonização do ser com o mundo, diferenciando-se das religiões por não colocar a questão de deus em primeiro plano (uma mística pode ou não pertencer ou resultar em uma religião). A questão de um deus isolado, separado, que concentra e emana todo poder a partir de si, não é uma questão da mística. O divino ou o sagrado na mística consistem na harmonização das energias cósmicas que fazem pulsar a vida no universo. Mundo, universo, cosmos e vida correspondem a um fluxo constante de energias, desde as formas de vida mais simples até as mais complexas, em todas elas podemos observar este pulsar das energias cósmicas.
          Um segundo aspecto a ser ressaltado é o que podemos denominar de compreensão mística. Ao contrário de outras áreas como as ciências, a Filosofia e as artes, que valorizam sobremaneira o discurso; na mística, o fundamental é a compreensão íntima, silenciosa, experienciada na clareira da interioridade do ser. Dizer, transmitir em discurso (quando possível) é importante, pois, assim, pode-se perpetuar e transmitir a compreensão alcançada, além de poder-se transformar nossas máximas em regra para as ações, porém, se não for possível a declaração discursiva, não haverá nenhum prejuízo para a mística. Pois, o realmente fundamental é a ressonância desta compreensão na interioridade, sem esta, o discurso não passará de palavra morta.
          O mundo, o universo e a vida, nada mais são do que um fluxo constante de energias cósmicas, a função da mística é, por sua vez, tentar estabelecer uma harmonia existencial entre estas forças. Pois, afinal, é da harmonia existencial que se poderá edificar esse estado de plenitude a que chamamos de divino ou sagrado. A luz, por exemplo, reiterada fonte de estudos da Física, símbolo do conhecimento e também de santidade, pode se propagar de duas maneiras (ou como onda, ou como partícula). Fazendo uma analogia (talvez até não muito feliz (risos)), podemos dizer que ao longo dos tempos tivemos ondas ou períodos de esclarecimento, ou então, constituem-se pequenas partículas, comunidades, grupos esclarecidos, pessoas que vibrem na mesma frequência (fundamentadas em relações de fraternidade e solidariedade, constituindo ou buscando esta harmonia existencial através da mística).
          Tudo está intrisecamente conectado, o microcosmos e o macrocosmos, ou seja, os indivíduos e seus ambientes e contextos influenciam-se mutuamente a todo momento. O que fundamenta tal relação é sempre um elemento individual que já recebeu vários nomes, como "eu", "consciência", "sujeito", etc., contudo, acredito que um termo utilizado por Kant, que é "apercepção" seja mais adequado para designar o que penso aqui (evidentemente sem a ênfase epistemológica dada por Kant). Apercepção refere-se a maneira através do qual o existente percebe (compreende) sua própria existência, em seus mais variados aspectos (psicológicos, intelectuais, sociais, políticos e espirituais). E cada um desses aspectos precisam estar em harmonia e equilíbrio, a fim de não destoarem e desafinarem a melodia existencial. Eu próprio, por exemplo, que penso como quem voa e sinto como quem rasteja, ainda preciso ajustar algumas "cordas" de minha existência de modo a vibrar em uma frequência mais harmônica.
          Enfim, os ritos e rituais místicos são de fundamental importância, não apenas para que se alcance a mencionada harmonia existencial, mas, sobretudo, para mantê-la após tê-la alcançado. Pois, é sempre muito fácil desafinar desta harmonia, é ainda mais fácil se tiver um único "intrumento musical" do que uma orquestra inteira. A orquestra (a mística) pretende então a formação de uma sinfonia espiritual com o objetivo de constituir a harmonia existencial.

2 comentários:

  1. Lindo teu texto!! adorei!! parece que en corpo eu estou aqui mas em pensamento parece que é vc porque conseguiu captar tudo e colocar no papel!!
    uma questao constante que me persegue è afinal de contas o que é deus? hoje ouvi uma resposta que me satisfez. Cada um de nòs deve encontar deus dentro de si, deus entao é a inteligencia ou o conhecimento mas nao objetivo e sim de si mesmo.

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  2. Deus está em cada um de nós, mas deus nunca é um, ele é tudo, mesmo aquilo que eventualmente nos faz sofrer. Inclusive a dor e o sofrimento é aquilo que nos edifica e prepara para coisas maiores e mais elevadas, todas etapas ou fases fazem parte de algo muito maior do que cada ser individual, que é a vida, isso é deus, a vida. Ao menos, é assim que eu percebo as coisas hehehe.

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