respire

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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Pneuma

Pneuma
e a
Harmonia existencial
Luciano Palm
          Em grego Pneuma se refere tanto ao orgão responsável pela atividade respiratória, ou seja, os pulmões, quanto ao próprio ato de respirar. Por um lado, a respiração pode ser vista apenas como um ato biológico que mantém os seres vivos, mas, por outro lado, a pneuma é também anima, como a designaram os latinos, ou seja,  é vida e, assim, responsável pela energia vital.
           Desse modo, a respiração pode potencializar e aumentar a energia vital, quando exercitada e desenvolvida corretamente. É inclusive neste sentido que ela será identificada como anima ou sopro de vida, que vai muito além daquele primeiro inflar dos pulmões após a saída do ventre materno, mas que se renova a todo inspirar e expirar, tornando possível o milagre da vida até que o último suspiro decrete o ponto final.
           Porém, ao inalarmos através do ato respiratório impurezas, como drogas ou outras substâncias do gênero, estaremos cometendo uma espécie de suicídio; e quando coletivamente inalamos grandes quantidades de poluição, como nos grandes centros urbanos, podemos identificar isto como uma espécie de genocídio. Além disso, uma respiração desregrada acarretará ao longo do tempo, sérios danos à saúde, podendo-se inclusive desenvolver tumores, desencadeando certos casos de câncer e levar inclusive à morte.
            Embora a respiração, por ser um ato vital, acabe se tornando também um ato mecânico e inconsciente, devemos, pelo menos por alguns instantes do dia, torná-lo consciente para ajustar ritmo e frequência. Chamo de ritmo ao fluxo e ao movimento biológico do funcionamento de nosso corpo (de nossa animalidade), enquanto que a frequência se refere ao fluxo e ao movimento de nossas energias espirituais (nossas angústias existenciais, nossos dramas psicológicos, nossas questões intelectuais e as variações de nossas emoções). Muito frequentemente nosso ritmo e nossa frequência estão em desacordo, promovendo assim o desequilíbrio existencial, configurando uma situação de risco e insalubridade. Um exercício de respiração e meditação pode ser importante e até aconselhável para se ajustar ritmo e frequência.
           Muitas vezes, mergulhamos nos afazeres cotidianos e esquecemos de nosso corpo, violentando-o e ultrapassando seus limites a todo instante. Excessos de toda ordem, correria alucinante, ansiedade sufocante, desgastes com preocupações antecipatórias  configuram uma situação de risco a qual todo sujeito moderno está exposto. O exercício recomendado deve começar pela atenção ao corpo, inspirando-se profundamente pelo nariz (inflando bem o diafragma e não respirando apenas com os pulmões) e expirando (bem devagar) pela boca. Durante este movimento deve-se prestar atenção no funcionamento do corpo  e fazer uma espécie de viagem por ele, atentando-se a todas as suas funções, sobretudo as funções vitais, batimentos cardíacos, funcionamento dos pulmões e oxigenação do cérebro. Após alguns instantes, continuando com a atividade respiratória, deve-se procurar fazer uma faxina interna, uma limpeza de chaminé (para usar um clichê da psicanálise), durante a inspiração deve-se pensar em elementos que devemos potencializar, melhorar ou desenvolver em nós e durante a expiração devemos pensar naqueles elementos dos quais devemos nos livrar, por nos fazerem mal, deixando-nos fragilizados e vulneráveis. O último passo consiste no relaxamento absoluto, estado de plenitude em que não pensamos em absolutamente nada, concentrando-nos apenas nos batimentos cardíacos e na respiração, expirando de maneira cada vez mais lenta, diminuímos os batimentos cardíacos, até relaxarmos por completo, esquecendo inclusive de nossa corporeidade.
           Contudo, nada disto do que foi escrito é uma receita, cada qual deve encontrar seus próprios meios, mas se alguma coisa puder ser aproveitada de experiências alheias, devemos compartilhá-las. Então, grande abraço a todos, que todos fiquem bem e em harmonia consigo mesmos, com a natureza e com todos os seres que os cercam. E que enquanto um gesto de vida brotar sobre a terra, todos nós possamos ver brotar nele também nossas esperanças de paz, justiça, fraternidade e solidariedade.

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