respire

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domingo, 5 de dezembro de 2010

Leve desespero

"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!" (Florbela Espanca)

Leve desespero

Tatiana Palm



          O início da minha partida foi anunciado e desde então resisti aos apelos e desesperos dos últimos dias de uma vida mediocrizada. É complexo tudo o que envolve sentimentos! É um misto de alegria e tristeza, mas, no momento da partida isso parece estar confuso para mim e para o outro tudo não passa de tristeza. A despedida é cruel! O apego é cruel! Praticar o desapego, o grande desprendimento, eis uma tarefa difícil! Por apego aquele que te ama pode desejar o teu fracasso e sentir contentamento com tua derrota, pois derrota, em muitos casos, significa retorno ao abraço de quem não quer te deixar livre para ser o que deseja ser. O fracasso de um sonho (é o risco que se corre ao se sonhar), pode representar uma vitória para o outro ou o alívio. Eu bem sei que desde o início você não quis outra coisa senão me ter onde teu abraço sempre alcança. Quando visualiza a possibilidade de estar do outro lado do oceano abraçado a mim então passo a ser o teu objeto de admiração. Sou aquilo que você deseja ser e exatamente nesse instante tuas declarações de amor são mais intensas, pois, me reconhece como o teu oposto e por sermos opostos um complementa o outro naquilo que falta. Certamente me admiras quando as coisas andam bem, mas me condena quando andam mal e se comporta como vítima ("eu sempre fiz tudo por ti"); quando ouso tenta com argumentos carregados de negatividade me desencorajar de fazer aquilo que desejo fazer. Admiração, condenação, desencorajamento, acusações, estou farta! Reconheço que fazes muito por mim, mas quando te dou a chance de escolher, você escolhe continuar fazendo tudo por mim, e, assim  continuamente faz questão de não esquecer de lembrar que ao fazer por mim as coisas andam segundo o meu ritmo torto, dançante, cambiante, incerto, certo, vivo. E poderia ser diferente? Toda vez que possui essa lembrança intimamente me acusas porque te faço ser aquilo que você não quer ser. E poderia não ser assim? Sinto que, agora, o momento do retorno, o sentimento é inverso; você sente um misto de alegria e tristeza e eu é quem sente inegavelmente o  peso da tristeza. Ora, por que a vida tem dessas coisas? Por que para uma coisa dar certo a outra tem que dar errado? Por que para o mundo girar e um lado  ter sol o outro tem que estar escuro? Protesto contra tudo isso com o meu silêncio. Silencio para não mais me acusares, para não tentar me convencer do contrário, para deixar você ser! Silencio porque estou farta da oposição. Eu emocional, sensitiva, sonhadora, viva e você racional, frio, insensível, calculista. Eu dionisíaca, você apolíneo. Silencio! É a solidão em desespero!

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