respire

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sono ancora viva

Sono ancora viva, forse più viva di prima

Tatiana Palm

        Na época da faculdade, pela primeira vez, ouvi falar do movimento hippie e de vida alternativa, assim como do comunismo e do marxismo. Certamente o fato de eu saber disso tão tardiamente pode supreender muitas pessoas, mas levando em conta o lugar onde cresci isso não é nem um pouco estranho. Na faculdade ainda aconteceram outras descobertas fantásticas como o descobrimento do que é a filosofia, o conhecimento de filósofos (como Heidegger, Nietszche, Schopenhauer) que dizem o que eu sentia e não sabia dizer, das bandas (Doors, REM, Pearl Jam, Ramones), da música clássica, da europa, da minha descendência italiana. O que agora sou, certamente, é um reflexo dessas descobertas e vivencias universitárias. Comecei a tomar gosto por um estilo de vida alternativo, que minha mae sempre classificou admirada e orgulhosamente como “diferente”. Com o tempo fui fazendo questão de me caracterizar assim, arrastava longos saiões indianos e usava colares de sementes e brincos de pena. Achava (o) o estilo o mais lindo de todos, e, por isso, era frequentemente confundida com hippie, ou seja, eu era tachada como alguém que eu não era. Eu era apenas uma moça certinha e conservadora, que tomava banho todos os dias e que nunca experimentou maconha.
        Hoje confesso que um dos meus desejos que mais me domina está conectado a uma tendência hippie. É a ânsia por uma vida simples, desligada do que comumente as pessoas desejam: carro, casa, dinheiro. É um desejo de estar rodando o mundo simplesmente para ter conhecimento, contato, vivencia com culturas, povos, histórias diferentes. É um desejo de experenciar a vida naquilo que ela tem de mais sagrado: ao vivo e a cores. É um desejo de estar em volta de uma fogueira, cantando e contando histórias, sentindo que todas as pessoas estão ligadas de alguma forma. Para mim, estar experenciando o mundo é estar em em comunhão com o mundo e isso é parecido ao que para muitas pessoas significa estar em comunhão com o que seria um deus. É aqui que vejo o sentido da minha existência e não em um mundo onde você se dedica ao trabalho para ter e depois deixar de ser.
        Um dia, enquanto insatisfeita e tristemente trabalhava, aflora em mim (outra vez) a conhecida senação de não estar familiarizada com o mundo e com isso acorda (outra vez) o desejo de largar tudo … veio à tona com força total aquela velha idéia fixa: "Eu quero viver na Itália." Cheguei em casa e tive uma daquelas longas conversas com desabafos, reclamações, confissões, lágrimas, risadas, sonhos, planos... E planejamos nossa vida no velho mundo. Eu queria mudar mas sem abrir mão de quem sempre fez tudo por mim. Não sem dor, contradições, choro, risadas e fé (em mim) parti com o objetivo de conhecer, mas, sobretudo, com o desejo de encontrar uma forma de sobreviver para que depois sobrevivendo juntos pudessemos desbravar a europa e mais tarde retornar ao ponto de partida para construir uma vida diversa na realidade que deixei ao partir.
        A realidade contradiz o desejo (sonho). Na prática, optar por mudar de vida é dificil, mas ainda mais é a vida alternativa dar certo. Ontem recebi um golpe certeiro ao ouvir a frase “quando eu acreditava no comunismo você também considerava uma loucura”. Bastou isso para eu compreender que uma vida não mediocre (alternativa) não passa de um sonho, um sonho louco para quem não o compartilha. Estou ainda no chão e vendo tudo nebuloso, mas tenho a doce recordação de que no verão, sempre cruzo com gente que vive de modo alternativo, nas praias ou nas montanhas e isso é uma prova de que o sonho não acabou!.

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