respire

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Passa-passarela

Passa-passarela
Luciano Palm
          Tantas, muitas, todas as vidas... as que já se foram, as que aqui estão e aquelas que ainda se prostrarão aos vossos pés, oh monstro cruel, tu que desde os idos mitológicos devoras paciente e irremediavelmente a todos os teus filhos. Tu, oh tempo, que a tudo consome e que a tudo consumirás, até que não reste mais pedra sobre pedra de todo o colorido que nos abraça.
          Passa, passarela, passarinho, atropela sem dó o que encontrar pelo caminho. De pés descalços ou sobre rodas, jornada longa ou curta, não importa. Mas que valha a pena, que valha todo e tanto penar, que cada gota de suor e sangue sirva de adubo àqueles que ainda virão. Mas como medir, como avaliar a própria medida. Marque as horas, os minutos, os segundos e verás que o relógio não é o tempo, o calendário não é o tempo, nem o raiar e o pôr do sol, também a aurora e o crepúsculo não são o tempo, nem a mudança das estações, com suas variações de cores e humores, nada disso é o tempo.
          O tempo é suspiro aliviado das dores que sem ele permaneceriam perturbando o presente, ele é todas as palavras que ficaram presas, engasgadas entre os dentes; o tempo é fuga daquilo que não se foge, pois, nesta esquina ou na próxima, o tempo e sua carrasca contadora (a pálida senhora morte) nos aguardarão para nos lembrar que por mais que tenham sido os anos, eles ainda foram poucos para o que realmente importa e que perdemos grande parte deles com banalidades e futilidades sem qualquer importância.
          Por isso,  cantarolando com Dante digo assim: _ "Certo dia destes, talvez eu me canse de perguntar ao mundo por quê e por quê?". Porque, afinal, a vida não é dama que se conquiste com palavras, mas com atitudes.

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