respire

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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Em qualquer lugar...

Em qualquer lugar...
Luciano, Juliano e Tatiana Palm
           Em qualquer lugar, para onde quer que vás, carregarás contigo as cicatrizes que tiveres colecionado pelo caminho. O lugar onde prentendas firmar raízes, mesmo que momentâneas, poderá transformar tais cicatrizes em feridas abertas ou em sinais esquecidos no tempo, dependendo da aura do lugar, da energia que emana dele sobre ti. Definitivamente, mesmo que possamos organizar da melhor maneira possível um espaço e torná-lo confortável e aconchegantemente habitável; em relação ao ambiente pouco ou quase nada podemos fazer, pois, cada ambiente segue sua própria lógica interna, em relação a qual não temos o pleno controle, podemos, na melhor das hipóteses, exercer uma insignificante influência.
           Quanto aos possíveis lugares em que um andarilho desta existência possa eventualmente habitar, eles podem ser de três tipos: aqueles que a princípio já nos causam desconforto e má impressão; aqueles que, ao contrário, a princípio já nos causam boa impressão e bem-estar; e, por último, aqueles lugares em que a princípio não nos causam qualquer impressão ou ao menos, não uma impressão suficientemente forte para atrair nossa simpatia ou antipatia. Frente ao problema do espaço e do lugar podemos ter reações diversas, ou nos adaptamos aos caprichos do lugar, por mais que eles possam nos ser nocivos e desconfortáveis, ou então, seguimos viagem em busca de um abrigo seguro, em que possamos desfrutar de uma existência mais compatível com nossos propósitos.
           Em nosso tempo, parece ser necessário fazer uma escolha entre o bem-estar material e o existencial (esta é, ao menos, a minha situação), alguns suportam uma existência extremamente medíocre satisfazendo-se com as tralhas que conseguem juntar pelo caminho. Outros, recusando-se a comprometer e a sacrificar suas existências por qualquer cacareco material que seja, correm mundo à fora, parecendo saber que o sentido da vida é apenas esse caminhar sem destino, o caminho e o caminhar são o único sentido possível, por isso, poder caminhar e mesmo assim ficar parado é uma forma de estar morto mesmo que ainda se esteja respirando. Dizem que se colocarmos um sapo dentro de uma panela com água e a lervarmos ao fogo, aquecendo-a lentamente, o sapo morrerá dentro da panela; porém, se o colocarmos diretamente dentro de água fervente ele saltará fora rapidamente. O mesmo acontece com as pessoas em relação aos lugares; se nascerem em um lugar desagradável e desconfortável e nunca saírem dali, elas suportarão uma vida infeliz até o fim (por não saberem que outra vida é possível); porém, se em algum momento tiverem saído e conhecido uma vida diferente, elas jamais conseguirão suportar a mediocridade e o desconforto do qual se originaram. Ao contrário, quando vivemos em um lugar que eleva nosso ânimo, nossa aura fica reluzente, emanamos boas energias a todos que estiverem ao redor, somos mais educados e cordiais, cuidamos mais do mundo e de nós mesmos, pois, nos sentimos realizados, potencializados e vivificados, nosso espírito nesse momento é de vida e não de morte.
           Pode ocorrer também a situação em que o bem-estar material e o existencial estejam conjugados. E se isto ocorrer, perfeito, desde de que não comprometa a espontaneidade e não obrigue ninguém a viver fingindo sentir o que não sente, ser o que não é e viver o que não quer. Contudo, e, isto não é noticia nova, mas uma novela antiga, em geral, os medíocres sempre se adaptam melhor a toda e qualquer situação, pois, como a mediocridade é a regra, os iguais sempre se aceitam melhor, enquanto que o diferente é excomungado como um pecado vexaminoso, seja ele algo melhor ou pior do que a mediocridade em si mesmada do dia-a-dia.
          Um dia, o velho Dostoeisvski, disse que "viver é sofrer", com a propriedade de só escrever o que efetivamente tenha vivido, como só o fazem os verdadeiros poetas, escrevendo com suor e sangue aquilo que sentimos e nunca conseguimos dizer. Descortinando o véu de maia frente a inocência e a ingenuidade de nossos olhos, varrendo toda e qualquer ilusão para de baixo do tapete, veremos e teremos que admitir que mesmo o sofrimento é fundamental para a vida, ou melhor, ele é a vida. Pessimismo? Nao, pessimista seria acreditar que o sofrimento represente apenas algo negativo, ao contrário, ele representa a positividade sob a sombra da qual experienciamos todos nossos prazeres fugazes. Querer a letargia anestésica da vida contemporânea, isentada de toda dor, risco e sofrimento, seria querer apenas uma vida pela metade. O sofrimento é tão importante quanto qualquer gozo. E para acabar, como já cansei de falar tanta bobagem infeliz, passo a palavra a meu velho amigo, diz aí Cartola: Ahhh, digo sim: "Sim, o mundo é um moinho e vai acabar reduzindo nossos sonhos a pó".
          É preciso coragem para admitir a necessidade desta consciência da dor, para só então, poder-se decidir sincera- e fielmente frente a estas vivências, quais delas nos propomos a experienciar e de quais queremos fugir....

2 comentários:

  1. .. se nao bastasse seu mais novo e surpreendente talento de transformar sentimentos em palavras, que para mim ate em entao era desconhecido ... conta com a colaboracao de dois ilustres pensadores ...um na area de filosofia e outro na da historia, mas que conjugando conhecimento formam uma parceria perfeita ... nao podia ter sido diferente ... ADOREI O TEXTO .. CONTINUEM COM ESSA COLABORACAO MUTUA QUE MUITO AGRADA AOS OLHOS DE QUEM LE ..

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  2. filosofia na vida é uma arma, onde as palavras ao mesmo tempo que salvam também podem destruir...

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