Semeando sonhos

Semeando sonhos...

para colher novas realidades

            Luciano Palm

          A vida em sociedade e sua organização sempre foram um tema recorrente para vários campos do conhecimento. Enquanto motivo para reflexão, a sociedade, seu governo e sua organização já representam um tema suficientemente complexo. Além disso, a implementação prática dos planejamentos políticos, jurídicos, econômicos e administrativos representam um verdadeiro desafio para políticos, juristas, economistas e para todos aqueles que se envolvem nos assuntos do Estado. Desde a Antiguidade, filósofos e estadistas discutem e buscam encontrar as formas do "bom governo", aquele que melhor corresponda à justiça e garanta a paz.

           No entanto, não pretendo refletir aqui sobre as mais variadas formas de governo e de Estado, defendendo esta ou aquela teoria. Minha pretensão é bem mais singela, quero tão somente refletir a partir de um pressuposto bastante simples: Há basicamente duas formas de se exercer o poder político: Ou pela força ou pelo fascínio. Eis uma premissa fundamental de Maquiavel sobre o governo do príncipe. Evidentemente é necessário atentar para as sensíveis diferenças que nos separam da Florença de Maquiavel. O pensador florentino fala em uma época em que o Estado Moderno está buscando sua afirmação num contexto político dominado por muito tempo pela forte influência eclesiástica. Atualamente o Estado é uma realidade desde a muito consolidada (inclusive, em certas ocasiões, desacreditada). Além disso, na época de Maquiavel, as decisões políticas se encontravam fundamentalmente nas mãos do príncipe (do governante). Embora os comerciantes florentinos também tivessem grande peso na balança política daquela época, nada se compara ao poder de barganha das grandes corporações na atualidade. Em tempos de economia globalizada, toda e qualquer decisão política tem seus olhos voltados primeiramente para os possíveis impactos econômicos.

          Contudo, enquanto Maquiavel endereça seus escritos ao Príncipe e seu governo, minha reflexão pretende se voltar mais sobre a condição e a situação dos súditos (para manter a linguagem da realeza (risos)), ou para usar um conceito complicado e massificante, o povo, mas acredito que seja melhor dizer a população.

         Certamente é mais fácil governar uma população amedrontada, endividada e ignorante, do que uma população autoconfiante, financeiramente estável e inteligente. Porém, os vícios históricos dos governantes tradicionais, a excessiva burocratização, a corrupção e a falta de planejamento fazem com que no Brasil historicamente tenha se optado pela primeira alternativa. Embora recentemente se observe bons indicativos de melhora, sobretudo a partir dos últimos governos, ainda assim os entraves para uma melhora mais efetiva ainda são evidentes.  

           Se observarmos os exemplos históricos, veremos que todas as grandes nações só se tornaram realmente grandes após um forte investimento em educação e na formação de sua população. Talvez seja o momento de o Brasil também refletir sobre um sério programa de formação, que não implique apenas em uma formação técnica qualificada para sustentar e fomentar o desenvolvimento e o progresso econômico e industrial, mas uma formação em sentido mais amplo, a exemplo da Paidéia grega e da Bildung alemã. Apenas com uma formação integral teremos condições de assumir nosso papel de vanguarda e não perdermos mais uma chance histórica de definitivamente deixarmos os bastidores e subirmos ao palco principal. 

           Uma população plena, esclarecida e educada, consciente de si e do seu papel histórico, com formação técnica e humana suficientemente estruturada e fundamentada pode dar valiosas contribuições para o mundo. Mas para isso devemos arregaçar as mangas e pôr mãos a obra, precisamos varrer os velhos coronéis para um canto escuro de nosso passado até que finalmente sejam esquecidos como uma vergonha silenciada, ou então continuaremos a ver nossas riquezas sendo sugadas pelos dentes de velhos e novos parasitas que se reproduzem em nosso cenário devido a apatia política dos justos e corretos cidadãos, que apesar de pagarem caro em impostos e tributos com o suor de seu trabalho, não recebem o mínimo de retorno necessário. Educação, saúde e assistência social continuam a serem vistas como esmolas dadas pelos todo-poderosos a pobres-coitados que parecem ter sido esquecidos pela providência divina e que vagam no mundo como quem perdeu a viagem.

          Desse modo, o esclarecimento da população através de um projeto de formação consistente apresenta-se hoje como o grande passaporte para um Brasil vigoroso e forte. Caso contrário, continuaremos a ver o medo nos olhos de nossas crianças amedrontadas e acoadas, perdidas nas esquinas do futuro pedindo esmolas a nações que foram mais sérias e competentes do que nós. E se isto acontecer, nós, cidadãos contemporâneos, teremos que assumir uma culpa vergonhosa por deixar passar uma oportunidade histórica a nossa frente sem ter a coragem necessária para assumir o nosso devido papel. Faremos o possível para que isto não aconteça!