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sábado, 16 de julho de 2011

Sinais dos tempos

Sinais dos tempos
Luciano Palm
          Uma antiga e quase esquecida definição de trabalho diz: "O trabalho deveria representar a realização das forças produtivas do ser humano." A citação é apenas aproximada, pois, não tenho tempo para revirar as obras do autor para apresentá-los a citação exata, mas a conjugação verbal é intencional "deveria", e, acredito que esteja de acordo com a realidade da maioria da população ativa. Das sofríveis atividades laborais destinadas a sobrevivência dos seres humanos primitivos, às complexas e alienantes atividades industriais e fabris dos seres humanos modernos e contemporâneos, engolidos pelas engrenagens das máquinas (estando ou não na indústria, pois, toda sociedade se rende prostrada aos apelos imperativos das fábricas). Não há como fugir, o homo faber evoluiu, segundo sua estranha e ilógica lógica, para o homo ex machina. E agora vive açoitado pelo tempo e triturado pelas engrenagens do SISTEMA, continuamos, como disse Drummond, "... construindo consciente e fielmente um mundo caduco".

           Construímos máquinas e novas tecnologias para sermos devorados por todo aparato técnico, que no princípio deveria colaborar para a emancipação humana, possibilitando mais tempo livre para que o ser humano se dedicasse a si mesmo e às questões de seu próprio interesse. Nada disto aconteceu, corremos (não sabemos de quê e nem para onde), mas corremos, corremos sem parar a fim de garantir uma sobrevivência medíocre e limitada, e continuamos, sobrevivendo, apenas, sobrevivendo. Nem bem vivemos, nem bem trabalhamos, somos simplesmente arrastados pelo turbilhão da técnica voraz e esmagados pelas engrenagens de um sistema caduco e em ruínas, que arruína a todos que consciente ou inconscientemente se rendem a sua lógica absurda. Uma verdadeira máquina de pessoas doentes e flageladas, que aguardam ansiosamente por suas aposentadorias (como momento redentor que possibilitará o desfrute devido das conquistas de uma vida inteira de dedicação e devoção: problemas cardíacos, de pressão arterial, tendinites, cefalites, distúrbios físicos e psíquicos de toda ordem lhes aguardam, para que reúnam finalmente suas últimas economias e realimentem o SISTEMA, depositando seus trocados aos pés da indústria farmacêutica).

           O absurdo é a marca de nosso tempo. Somos o passado imperfeito de um presente sem lugar. Ninguém fala, nem deve falar nada, vivemos no tempo da concordância amordaçada e amedrontada, consentimos não porque concordamos, mas por medo da represália da impessoalidade triunfante. Toda voz contestatória é identificada pelo coletivo alienante e estupidificante como um tumor a ser extirpado no momento mais oportuno, de acordo com as conveniências do sistema racionalizante que a tudo governa, do modo mais discreto e higiênico possível. Vivemos um tempo descartável, de homens e mulheres descartáveis, não há mais pessoas, apenas números, subtraíveis e adicionáveis segundo os interesses e necessidades do grande sistema mercantil e industrial. Apequenamo-nos atrás de nossas trilhas e bugigangas, acumuladas sempre em maior número e volume, aumentando sempre mais nosso endividamento e dependência a tudo aquilo que nos oprime e escraviza (física, moral e psicologicamente).

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