Amor e amizade
Tatiana Palm
Segundo Eric Wolf, há dois tipos de amizade: a instrumental e a expressiva ou emocional. Em contraste à amizade instrumental (que é por interesse) há a chamada amizade emocional que é por compensação. A amizade emocional acontece quando um ego compensa um alter. Essa amizade completa um ao outro, e, além de oferecer o complemento dá a satisfação emocional e o amparo, já que é um meio dos indivíduos se assegurarem de que apesar de terem sido jogados no mundo não estão sozinhos. Onde podemos encontrar esse tipo amizade? O autor sugere que ela ocorre principalmente em situações sociais em que há uma forte integração em agrupamentos solidários como, por exemplo, comunidades. Como foi observado por Cohen, os agrupamentos solidários encaram a quebra dos laços de amizade como uma ameaça e por isso tentarão limitar esses laços. Isso me permitiu compreender, em termos de minha própria experiência, o comportamento dos “irmãos” das comunidades sustentáveis (alternativas) que aparentemente são abertas e receptivas. Tornou-se mais claro o motivo pelo qual comunidades alternativas ou sustentáveis são solidárias e cooperativas mas (veladamente) fechadas em relação a “estrangeiros”.
O que quero acrescentar é que para além dos agrupamentos humanos acredito que a amizade emocional também nasce em circunstâncias existenciais em que há a simpatia (o sentir junto), o compartilhamento de um afeto e, sendo assim, também podemos encontrá-la ali onde se diz que existe o amor, na relação amorosa. Passei a entender o amor como sendo sinônimo de amizade. O amor parece ser a conexão dos opostos, um complementa o outro. Não somente admiro no outro aquilo que me falta, mas busco me completar no encontro com o outro. A verdade é que cada um satisfaz a sua necessidade emocional por meio do seu oposto. Nietzsche, ao falar do casamento alertava: quando pensares em estender um relacionamento a longo prazo imagine se você consegue conversar com essa pessoa por um longo tempo, pois, quando passar a força da juventude a única coisa que restará serão longas horas de conversa. Ao que nos parece é que o amor que é capaz de trans-form-Amar não sobrevive sem a amizade. A amizade, ao que tudo indica, pode ser ainda mais fundamental do que o amor.
O curioso é que a intensidade da relação de amizade tem uma tendência a dissolvê-la. A partir do momento em que é atingida uma alta intensidade de amizade exige-se a “afeição recíproca e espera-se que o camarada aja somente de maneira a proporcionar prazer ao seu amigo. Os camaradas sentem ciúmes um do outro”. É diferente no relacionamento amoroso? Não! Neste caso, ou há a construção de uma relação equilibrada, porém, sem superar essa expectativa do prazer ou há uma anulação de uma parte frente a outra, a qual se empenha em proporcionar apenas prazer e não desprazer. Assim, uma verdadeira amizade emocional tanto como um verdadeiro relacionamento amoroso contém em si uma força autodestrutiva. São, sem dúvida, ambivalentes: construtivas e destrutivas.
Texto Lido:
Parentesco, amizade e relações patrono-cliente em sociedades complexas de Eric R. Wolf
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