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domingo, 7 de dezembro de 2014

A dança cósmica:

O Ser e os seres 
(ou os entes)
Luciano Palm
Resultado de imagem para ser
          O Ser enquanto totalidade, ou seja, o universo da existência em sua plenitude é para nós apenas possibilidade. Possibilidade de que? Possibilidade de ser. Enquanto possibilidade de ser, ela é sempre relativa, isto é, ela representa sempre apenas uma parte do ser que se desvela a nós. Fazendo uma analogia com a compreensão científica, podemos dizer que a realidade é desvelada a nós ora pela Química, ora pela Física, ora pela Biologia, pela Psicologia, e assim por diante; no entanto, todas estas perspectivas desvelam apenas uma realidade relativa, parcial e limitada, permanecendo a realidade em sua totalidade sempre incompleta, estampada como pano de fundo sob o qual se apresentam as mais diversas compreensões de mundo.
          Desse modo, o ser enquanto totalidade é Presença eterna, ele é imóvel, estático, permanente e imutável. Sendo assim, a sua compreensão e seu desvelamento só seriam possíveis através e para uma consciência cósmica/ universal. No entanto, a consciência humana não se apresenta desta forma, ela é sempre relativa, limitada e parcial. Além do mais, o próprio ser humano e sua existência se apresentam sempre como relatividade, uma relatividade especial, porque consciente de si mesma (ou  ao menos com a possibilidade para tal). Contudo, esta sua consciência relativa, é sempre também a consciência de uma falta, a consciência de sua limitação diante do todo, que sempre lhe escapa enquanto totalidade e sempre se lhe apresenta enquanto parte, ou seja, enquanto não-ser, enquanto negação do todo que permanece oculto atrás dos fenômenos aparentes.
        Se o Ser enquanto totalidade é presença eterna e imutável, o ser do ser humano se apresenta como mera presença instantânea, móvel, transitória e mutável, ou seja, ela constitui a própria negação do ser em si mesmo, constituindo o seu contrário, o devir ou vir-a-ser. A consciência humana, por sua vez, sendo uma consciência mundana-finita e sempre parcial (ao contrário da consciência cósmica), só pode perceber e compreender a realidade como uma representação espaço-temporal, ou seja, como uma imagem refletida nas dimensões do tempo e do espaço (dimensões dentro das quais o ser humano compreende a sua realidade relativa). Esta representação, é preciso dizer, estará sempre sujeita a duas limitações imediatas, as limitações da própria consciência humana e de suas faculdades, e as limitações da sensibilidade humana (do "acesso" que o ser humano tem aos fenômenos que o cercam). De modo que, o que se desvela como realidade para o ser humano e sua consciência será sempre, platonicamente falando, a cópia da cópia, a ilusão da ilusão da Realidade em si mesma, em sua totalidade.
            Diante disto poderíamos legitimamente nos perguntar: então, não faz sentido algum as investigações filosóficas e científicas acerca da realidade? (Dado que jamais chegaríamos através delas a ter acesso a compreensão da realidade enquanto totalidade.) É prudente e razoável admitir que não teremos acesso ao ser em sua totalidade em nossa atual condição de consciência, dado ser isto uma impossibilidade ao ser humano. Contudo, os esforços filosóficos e científicos são válidos e legítimos sim, pois, consistem num acesso possível, em uma perspectiva possível do ser humano ao\do Ser. A filosofia e as ciências ampliam gradativamente as possibilidades de ser do ser humano (ou ao menos a consciência reflexiva de tais possibilidades). Além disso, o único acesso consciente que o ser humano tem do Ser, é através de suas possibilidades de ser, então, quanto mais amplas forem estas, maior será a consciência daquele (Ser). Maior sim (ou talvez, ou é provável que sim), mas sempre relativa, e por maior que seja (mesmo que seja infinitamente maior), jamais será plena, dado que permanecerá indefinidamente relativa. E ela permanecerá para nós, não esqueçamos, sempre um fenômeno da consciência, isto é, uma representação, jamais a experiência do Ser em sua totalidade. Querer compreender o que é o Ser que já somos é, analogicamente, querer ver na célula o organismo inteiro, ou seja, é possível, mas apenas sempre relativamente.

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