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sábado, 25 de setembro de 2010

Com Kant na tribuna

Com Kant na tribuna
Luciano Palm
         Hoje pela manhã tive um encontro com Kant ((risos) na verdade, participei de uma discussão sobre a Crítica da razão pura com professores da Universidade Estadual de Santa Catarina - UDESC, com professores da Universidade de São José - USJ e com estudantes dos cursos de Pedagogia e Ciências da Religião da USJ). Kant falou-me sobre sua Crítica da razão pura, especialmente sobre sua Estética transcendetal. No entanto, nesta reflexão, não discutirei os conceitos kantianos propriamente ditos, senão a filosofia kantiana como um todo e sua importância para a história da filosofia e, por que não dizer, para o mundo e para a humanidade.
           As vezes me pergunto, sinceramente, como um homem tão pequeno (em estatura física) e tão frágil (no que diz respeito a sua saúde), foi capaz de coisas tão grandiosas, perspicazes e profundas (sobretudo nas discussões sobre o conhecimento)? Enfatizo as questões em torno do conhecimento (suas condições de possibilidade e seus limites, para usar uma linguagem kantiana propriamente dita), porque considero que é neste âmbito que Kant tenha dado suas maiores contribuições, acredito que dificilmente algum kantiano discordaria disso. É evidente que suas discussões acerca do âmbito prático também sejam relevantes e em alguns pontos inovadoras, apontando para progressos e esclarecimentos significativos, mas, em sua maior parte, a filosofia prática de Kant representa uma tímida contribuição para as questões do Contratualismo e da formação (construção e definição) do Estado Moderno nascente um pouco antes de sua época.
          Não gosto de ser enxerido e "futricar" na vida alheia, porém, como a pessoa em questão é alguém público, viveu em uma época e país bem diferentes do meu e provavelmente sequer nenhum de seus familiares tomará conhecimento do que aqui digo, então me dou o direito de ficar bem a vontade (risos). Pois bem, não são poucos os que acusam Kant de ser extremamente chato e enfadonho, mas temos que defendê-lo neste sentido, pois, não é nada fácil ser agradável e engraçado tratando dos assuntos com os quais ele se ocupava. Por outro lado, algumas biografias dizem que Kant, enquanto pessoa, era sim extremamente engraçado e agradável, dizem que em rodas de amigos era o primeiro a contar anedotas e deixar o clima agradável, então, talvez a culpa (de sua suposta chatice) seja da filosofia e não do homem (risos). No entanto, o que mais nos interessa evidentemente é a filosofia e não o homem, mas sempre considerei relevante, importante e, em alguns casos, inclusive fundamental conhecer o homem atrás de suas idéias a fim de melhor compreender suas teorias e posições frente as questões de seu mundo e de sua época.
           Kant jamais saiu de sua cidade natal Königsberg, fronteira entre a Alemanha e a Rússia (sinceramente nem sei se hoje esta cidade é considerada território alemão ou russo, mas isto não vem ao caso no momento), no entanto, ele é a prova viva de que para ir longe, não é necessário sair correndo deseperadamente por aí, Kant revolucionou o mundo sem derramar uma única gota de sangue e sem sair do lugar. Auxiliado e pegando nas mãos de outros dois grandes homens do mundo, Kant viu além do que os humanos olhos tinham visto até então. Issac Newton e David Hume são estes mencionados dois "colaboradores" de Kant, ao lado deles, podemos certamente colocar também o francês Jean-Jacques Rousseau, que foi fundamental para a elaboração da filosofia prática kantiana, fornecendo e elaborando inclusive conceitos fundamentais desta.
          Mas, inicialmente eu dizia que a grande contribuição de Kant para a filosofia e para o mundo, encontrava-se nas questões relativas ao conhecimento. Pois bem, para ser mais preciso (e também encaminhando-me já para o encerramento desta reflexão, que não se pretende um estudo aprofundado e minucioso da filosofia kantiana, mas apenas uma descrição rápida de algumas impressões pessoais acerca dela), enfatizo que, se quiséssemos rapidamente identificar o "ponto nevrálgico" (risos), o cerne, o núcleo mais significativo a partir do qual a filosofia kantiana se tornou assim tão importante, eu diria que tal ponto consiste, certamente, no que todos chamam de revolução copernicana.
           Para aqueles que não conhecem, explicarei rapidamente no que consiste tal revolução. Na época de Kant, haviam duas grandes teorias do conhecimento, que lutavam ferrenhamente entre si na determinação sobre como se dava o processo de conhecimento humano, são elas, o Empirismo de um lado e o Racionalismo de outro. Sendo bem simplistas (porém não incorretos), podemos dizer que a questão se colocava na época da seguinte maneira: Empiristas colocavam todo o fundamento e princípio do conhecimento na experiência sensível, enquanto que racionalistas colocavam tal fundamento unicamente na razão. Além disso, as teorias do conhecimento discutiam suas questões historicamente a partir da perspectiva do objeto e não do sujeito do conhecimento. Kant virá para pôr tudo de pernas para o ar (ou para pôr tudo com os pés no chão (risos)) , em primeiro lugar, ele efetuará um casamento inimaginável em épocas passadas entre os dois inimigos mortais, Empirismo e Racionalismo. Kant dirá, fiquem calmas meninas nenhuma das duas está correta, porém, também nenhuma de vocês está completamente equivocada (risos), isto é, nem só a sensibilidade, nem só a razão, mas, tanto a sensibilidade (a experiência empírica) quanto a razão são fundamentais na construção do conhecimento, agora sim, deixando as brincadeiras de lado, farei uma tradução fidedigna de Kant sobre este tema, dirá ele que: A sensiblidade sem a razão seria cega, enquanto que a razão sem a sensiblidade seria ôca. Pois, enquanto a sensibilidade é responsável pelo fornecimento do conteúdo (da matéria bruta), a razão será responsável pela significação (por dar sentido) a este conteúdo. Por outro lado, e agora finalizando definitivamente, Kant inverterá as investigações acerca do conhecimento (e nisto consistirá a mencionada revolução), que até então, como disse anteriormente, se focava no objeto do conhecimento, Kant deixará o objeto de lado e se centrará no sujeito, analisando as condições de possibilidade, sua sensibilidade e sua estrutura conceitual (as categorias), do sujeito do conhecimento. Enfim, podemos dizer que a partir de Kant, nosso fora está dentro, ou seja, aquilo que identificamos como o mundo externo, não passa de uma representação (de uma perspectiva) possível a partir de nossa humana sensibilidade e de nossa humana razão.

Um comentário:

  1. Gostei do texto principalmente porque nele existe o teu toque: piadinhas, tiradinhas (risos). Isso deixa um conteudo serio ficar mais leve.
    Nao sei porque, mas hoje percebi uma certa semelhança entre o homem kant e um certo Homem que conheço muito bem!!

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