Luciano Palm
A infância, o mundo das crianças é um mundo mágico, um mundo de descobertas, de deslumbramento e de encantamento. As crianças lutam, batalham e estudam duro para aprenderem a ser adultos, para aprenderem a ser gente grande. Mas, seria tão mais interessante se, ao invés disso, gente grande é que pudesse reaprender a ser criança, a ser sincera como uma criança, a ser verdadeira como uma criança, a se encantar pelo mundo como se encanta uma criança e a cuidar do mundo como cuida uma criança.
Pois bem, então, abracadabra, mergulhemos em algumas magias de criança, para melhor entender algumas coisas de gente grande. Pensemos no seguinte: _ Alguém nasce falando? Não. _Qual é a primeira linguagem que usamos (linguagem universal inclusive)? O choro, quando uma criança está com fome, ela chora, quando está com alguma dor, ela chora, então, o choro é a primeira linguagem humana.
Contudo, se não nascemos sabendo falar, todos nós nascemos sabendo ouvir. Desse modo, é muito provável que, nos primeiros momentos de nossas vidas, nossa língua materna soe aos nossos ouvidos assim como, atualmente, nos soa uma língua estrangeira desconhecida, ou seja, no início tudo não passa de um conjunto de sons sem sentido, sem significado algum. De repente, ocorre a primeira magia, abracadabra, e o som se transforma em palavra, a criança começa a balbuciar as primeiras palavras (mama, papa...) e aos poucos, as palavras vão ganhando forma e sentido. Por isso, no aprendizado de uma língua estrangeira, a primeira coisa a que devemos atentar é para a sua musicalidade, assim como fizemos quando aprendemos nossas línguas maternas.
No entanto, quando falamos, dominamos e utilizamos nossa língua materna para nos comunicarmos e para lidarmos com o mundo a nossa volta, ainda não sabemos nem ler, nem escrever. Nesse sentido, a partir de certa idade, vamos para os centros de ensino, para as escolas. E nesse momento (abracadabra), ocorre a segunda grande magia em nossas vidas, a palavra falada, de repente, se transforma em palavra lida e em palavra escrita, ingressamos, a partir de então, no mundo da cultura. Certa feita, Mário Quintana disse algo repleto de verdade a este respeito: O pior analfabeto não é aquele que não sabe ler e escrever, mas aquele que sabe ler e não lê. Pois, se pensarmos bem, saber ler é um passaporte gratuito, com o qual podemos viajar para qualquer lugar do mundo, quiçá do universo, sem sair do lugar. Só há mais uma possibilidade de se fazer isto: através do cinema (ou da internet), mas, nestas alternativas temos o prejuízo do aprisionamento de nossas imaginações, as imagens e as perspectivas já vêm pré-programadas, enquanto que na leitura não, a liberdade de nossos imaginários pôem a criação dos cenários e das perspectivas em nossas mãos (ou melhor, em nosso intelecto, em nosso entendimento e em nossa imaginação).
Entendimento e imaginação são igualmente palavras "mágicas", palavras-chave, no que diz respeito ao processo humano de conhecimento do mundo. É bem verdade que em ordem invertida a citada, antes vem a imaginação, para depois vir o entendimento. Como assim? Claro, o ser humano simplesmente não consegue lidar com o desconhecido, com o estranho, com o avesso, desse modo, o desconforto que ele sente diante destas coisas, o faz tornar tudo o que é estranho e desconhecido, em algo familiar e conhecido para ele.
Inicialmente, isto foi feito através das mitologias (e todos os povos possuem uma mitologia em sua origem, os indígenas, os negros, os nórdicos, os judeus, etc.). Mitos são explicações fantásticas, que remontam os tempos primordiais e se baseiam na imaginação e na criação de divindades, tais explicações eram utilizadas para explicar as coisas do mundo e as coisas humanas. A partir das mitologias, surgirão, em primeiro lugar, as religiões, e da mitologia grega mais especificamente, surgirá a filosofia (e desta ainda, posteriormente, surgirão todas as ciências, donde a filosofia também ser chamada por alguns de mãe de todas as ciências).
As explicações filosóficas, por sua vez, são explicações fundamentadas no entendimento ou, mais genericamente, na razão. Nesse sentido, a filosofia é a busca por explicações racionais para as coisas do mundo e para as coisas humanas. Depois, esta função da filsofia, foi sendo passada para as ciências. E a filosofia? Bem, a filosofia sofre com o descaso que todos os velhos e valorosos senhores e senhoras sofrem em nossa sociedade, que depois de muito contribuirem com seu trabalho, dedicação e esforço, são simplesmente descartados e postos de lado.
OBS.: Este escrito foi inspirado por uma aula de filosofia dada as turmas dos anos iniciais da rede municipal de ensino de São José, na grande Florianópolis.
OBS.: Este escrito foi inspirado por uma aula de filosofia dada as turmas dos anos iniciais da rede municipal de ensino de São José, na grande Florianópolis.
Sim, sim, um otimo texto tao bom quanto outros. 'E dificil dizer qual é melhor. Sim, fantastica a relaçao entre o entendimento, a imaginaçao, os mitos e a filosofia. Eu diria mais, ouso dizer que ciencia sao tipos e modos de filosofar. Gostei!!! muito!!!
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