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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

As moscas

As moscas
Luciano Palm
          Voam, planando raso no vale profundo das praças das cidades, as moscas em polvorosa com sua seriedade estúpida, fazendo de banalidades fúteis motivo para suas preocupações, gastrites e úlceras. Sobrevoam fezes com a alegria e o entusiasmo de quem sobrevoa um tesouro, claro, para elas qualquer merda ou porcaria é motivo de frenesi.
          Oh moscas, vós que encontrastes o fundamento de sua felicidade em nascer, fazer barulho voando em círculos em torno de seus enormes umbigos, entulhar o mundo com mais coisas pequenas iguais a vós, arregalando os olhos que nada vêem além do vulto que passa diante da fuça. Por que haveriam de temer a morte.) Acaso ainda não teriam enjoado de percorrer este enfadonho caminho circular que vai de uma ponta à outra de um umbigo que após a vossa morte permanecerá tal qual antes de vosso nascimento, isto é, solenemente esquecido e ignorado pelo mundo para o qual durante um curto tempo fostes um peso incômodo.
           Por que se sobrecarregam tanto? Por que tanta tralha, tanto bagulho, tanta bugiganga? Se ao final, tudo o que te cabe é um pequeno buraco, bem pequeninho, do teu tamanho, por onde fugirás vergonhosamente deste mundo. Deixando todas estas coisas para mofar em outras mãos, que viverão e matarão por elas, para igualmente acabar em um pequeno e vergonhoso buraquinho; humilhação do orgulho de todas as moscas altivas que um dia deixam de voar para simplesmente parar; e protegidas de todo movimento, permanecem com o mesmo valor de sempre, sendo o que sempre foram e nunca deixaram de ser, nada!

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