As moscas
Voam, planando raso no vale profundo das praças das cidades, as moscas em polvorosa com sua seriedade estúpida, fazendo de banalidades fúteis motivo para suas preocupações, gastrites e úlceras. Sobrevoam fezes com a alegria e o entusiasmo de quem sobrevoa um tesouro, claro, para elas qualquer merda ou porcaria é motivo de frenesi.
Oh moscas, vós que encontrastes o fundamento de sua felicidade em nascer, fazer barulho voando em círculos em torno de seus enormes umbigos, entulhar o mundo com mais coisas pequenas iguais a vós, arregalando os olhos que nada vêem além do vulto que passa diante da fuça. Por que haveriam de temer a morte.) Acaso ainda não teriam enjoado de percorrer este enfadonho caminho circular que vai de uma ponta à outra de um umbigo que após a vossa morte permanecerá tal qual antes de vosso nascimento, isto é, solenemente esquecido e ignorado pelo mundo para o qual durante um curto tempo fostes um peso incômodo.
Por que se sobrecarregam tanto? Por que tanta tralha, tanto bagulho, tanta bugiganga? Se ao final, tudo o que te cabe é um pequeno buraco, bem pequeninho, do teu tamanho, por onde fugirás vergonhosamente deste mundo. Deixando todas estas coisas para mofar em outras mãos, que viverão e matarão por elas, para igualmente acabar em um pequeno e vergonhoso buraquinho; humilhação do orgulho de todas as moscas altivas que um dia deixam de voar para simplesmente parar; e protegidas de todo movimento, permanecem com o mesmo valor de sempre, sendo o que sempre foram e nunca deixaram de ser, nada!
Nenhum comentário:
Postar um comentário