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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Amputações autoprovocadas (Comer, Rezar, Amar)

Tatiana Palm


           
No fim do ano-velho assisti ao filme 127 horas, que conta o que aconteceu na vida real de Aron Ralston. Uma das cenas forte, dolorosa e decisiva foi aquela da amputação do braço. Como escreveu certo dia Marta Medeiros, em sua coluna no Jornal ZH, “o corte, o tão famigerado corte, no entanto, faz parte da solução não do problema. São cinco minutos de racionalidade, bravura e dos extremos, mas também um ato de libertação, a verdadeira parte feliz do filme, ainda que temos dificuldade de aceitar que a felicidade pode ser dolorosa”.



            No início do ano-novo assisti ao filme “Comer, Rezar, Amar”, baseado na vida concreta de Elisabeth G. Do meu ponto de vista, este filme pode ser uma sequência do outro no sentido de que o outro permite a interpretação de que as amputações existenciais podem ser necessárias, este, por sua vez, representa as amputações feitas e o que se desencadeia a partir delas. Em “Comer, rezar, amar” a autora faz amputações no que diz respeito ao amor (amor paralisante), a sua profissão, a sua cidade, da sua existência desencantada. Os cortes são condição da continuidade do seu existir em sentido verdadeiro, pleno e inteiro. É a partir dos cortes, que não foram sem sangue, sem dor, sem medo ou sem insegurança, que a autora ressignifica a sua vida, encontra a felicidade e também a sua espiritualidade. 


            As autoamputações são necessárias quando queremos nos libertar do que aprisiona, adoece, imobiliza. As amputações são dramáticas, porém, necessárias quando não queremos ser pessoas acorrentadas às comodidades. A comodidade é o mal do nosso século. É um mal por ser contrário ao movimento, que é o verdadeiro ser da vida que pulsa. É preciso, no fluxo constante da vida, voltarmos a ser natural o que significa pôr-se em movimento que, por sua vez, implica executar cortes, amputações de tudo o que é nosso mas que deve deixar de ser.

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