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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Consumo como phármakon do vazio existencial

 

O consumo como phármakon do vazio existencial


Tatiana Palm



                             Estamos por aí, existindo, seguindo um caminho, mas como humanos pós-modernos estamos cheios de um vazio existencial que, em vão, tentamos preencher comprando… comprando... Consuma! isso é o que nos orientam a fazer, pois, comprando encontraremos a felicidade, o prazer, o bem-estar, a paz interior. Comprando preenchemos nosso vazio. Ilusão! Tudo não passa de ilusão! Os produtos que estão aí para serem comprados não possuem poder mágico, mas, o tempo todo, tentam nos convencer do contrário. Aquilo que está aí para ser consumido é revestido de propriedades especiais, adornado com a ideia de felicidade, de beleza, de poder, de prazer, de bem-estar. Consumimos cada vez mais porque cada vez mais somos mais infelizes, sentimos menos prazer, nos sentimos menos belos e satisfeitos. Assim, é como se a sacola (que carregamos cheia de mercadorias) fosse a caixa de pandora, só que pelo avesso: ao ser aberta, em casa, de dentro dela sai a felicidade, o prazer, a satisfação interior, o poder, enfim, tudo aquilo que nos falta e porque nos falta nos faz ser o que somos, seres vazios. E assim, cobertos pelo véu de maya esquecemos de perguntar quem nos tirou a felicidade? Qual é a origem do nosso vazio existencial?.


               Se não estivéssemos cegados perceberíamos que aquilo que tenta nos preencher também é o que criou em nós o vazio. A sociedade industrializada e capitalista ocasionou a perda de nós mesmos e favoreceu nossa desconexão com tudo o que é natural e, agora, nos oferece a solução para preencher o nosso buraco existencial: consumir. Sim, é exatamente isso: devido a nossa sensação de vazio existencial sobrevive o consumismo exacerbado. Comprando, os consumidores terão a sensação de preenchimento e, de graça, a sensação de pertencimento social. Isso porque, aquele que consome os produtos à disposição no mercado consumidor será, ao mesmo tempo, igual e todo mundo e não um deslocado (pois consumirá o que os outros consomem). Depositamos em coisas (nos produtos) a oportunidade de obter tanto a sonhada satisfação (interior) quanto a sonhada felicidade. Isso tudo, porque, somos seduzidos. Se Ulisses devia tapar os ouvidos para não ser seduzidos pelo canto das sereias, nós, seres pós-modernos, devemos fechar os olhos para não sermos seduzidos pelas imagens (dos produtos) revestidas de qualidades que, de fato, são inexistentes. Os produtos são apenas coisas que servem para algo, nada mais do que isso: qualquer outro acréscimo é apenas projeção psicológica de um consumidor encantado, porém, vazio.


Texto inspirado na leitura do artigo: Sedução para o consumo – In: revista Filosofia, Janeiro de 2012



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