A aurora do existir autêntico

A AURORA DO EXISTIR AUTÊNTICO

Tatiana Palm

       A busca, este para cá e para lá, movida pelo não sentir-se em casa, exige a uma atitude de coragem. Por mais confuso e desesperador que tudo inicialmente pareça ser, é preciso permanecer em tal situação, pois é exatamente na incerteza, no desesperador e na confusão que se encontram o cerne da vitalidade e da força: a força e a vitalidade que precisamos para recomeçar de outro modo, abandonando tudo o que era familiar. Não há como negar o prazer e simultaneamente o medo na aventura de um existir que brota da inquietação da finitude. É uma existência em que transcendemos as ocupações (tarefas) cotidianas e a influência e opinião dos outros para sermos nós mesmos e, mais precisamente, aquilo que queremos ser. Se levarmos à sério aquilo que nos rouba o tempo em nosso dia a dia não experimentamos um existir propriamente. Se não formos transpassados pela inquietude existencial, se não nos mantivermos alheios ao que os outros falam ou pensam, e, se apesar de sermos dependentes do que chamamos de dinheiro, não formos capazes de romper essa relação com as ocupações e tarefas que nos sugam o que temos de melhor sem nos dar um retorno compensador, nossa vida se tornará insignificante e medíocre, cujo fim levará a uma comodidade sardônica. Compreendi, finalmente, que uma existência própria, tão buscada por mim, assim como igualmente questionada, quanto a sua real existência não está distante, mas é exatamente o que estou vivenciando. Tratava-se de uma expectativa por algo do qual duvidava de sua existência efetiva e, no entanto, agora, pela primeira vez, comecei a perceber que o que foi chamado de existência autêntica (própria) é meu estar constantemente no aqui e agora, plena, as vezes, frágil, as vezes, firme como uma rocha, mas sempre plena e presente a si mesma (nas ângústias e nas alegrias, nos sabores e desabores possível a um mortal e humano ser).