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sábado, 20 de maio de 2017

QUEM DÁ MAIS
ou
Bandidos Escolhendo o Chefe da Quadrilha
Luciano Palm
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         Eis um momento singular e extremamente delicado na história política brasileira. Foi devido a um grande jogo encoberto por profunda ignorância e sonambulismo político coletivo, endossado pelo histórico analfabetismo político popular, por boas e más intenções contra e a favor da corrupção nacional endêmica, manipulação ideológica e midiática de todo tipo que chegamos ao verdadeiro "circo dos horrores" que atualmente, e, infelizmente presenciamos em nosso cenário nacional.
           Tudo o que os abutres do congresso nacional querem, como de costume, é se aproveitarem do clima caótico e de grande instabilidade institucional para perpetuarem e aprofundarem ainda mais o seu espírito vampiresco, intensificando a exploração do povo brasileiro através da aprovação rápida e sorrateira de suas elitistas, vampirescas, impopulares e desumanas "reformas" (sobretudo as reformas da Previdência e trabalhista, ora em curso, acrescentando-se a PEC - 55, vergonhosamente já aprovada). Prestemos bem atenção irmãos, como já disse em textos anteriores, os fenômenos vivenciados atualmente no Brasil (e também em outras partes do mundo), nada mais são do que sintomas de uma crise civilizatória mais ampla, que nos convida a refletir e reformar profundamente nossos modos de ser, de viver, de produzir, de educar, de governar... No entanto, aproveitam-se do slogan, o que vem se apresentando como supostas "reformas" no cenário político brasileiro representam, em verdade, um sério golpe a dignidade e a integridade de toda uma sociedade, que vem sendo obrigada a assistir de camarote a ruína de sua soberania cívica e popular.
         O que querem os bandidos do congresso nacional brasileiro nesse momento, apoiados por juristas megalomaníacos que, ao invés de promover a justiça, egocêntrica e unilateralmente promovem o caos como forma de autopromoção, e, auxiliados por forte aparato midiático, simultaneamente promovem a confusão generalizada da opinião pública, ao invés de fornecer informações de forma ampla e não tendenciosa, que pudessem fornecer a população elementos para que a sociedade pudesse fazer uma leitura e juízo isonômico, razoável e equilibrado dos fatos e dos personagens envolvidos. Ao invés disso, mesmo após literalmente rasgarem nossa Constituição através de "reformas" completamente anti-constitucionais, que ferem diretamente princípios básicos da Constituição de 1988, querem nos fazer acreditar que o caminho diante da atual crise política é nos atermos a um princípio legal que sugere eleições indiretas como a melhor alternativa. PRESTEMOS ATENÇÃO!
          Toda a soma de dinheiro envolvida nos escândalos, recentes e passados, uma quantia de dinheiro que nós, meros mortais, temos inclusive dificuldade para contabilizar, foi acionada e gerenciada pelos principais personagens que no momento são os alvos principais das investigações (e, aproveitando o momento de crise institucional, apesar de críticas pontuais a alguns personagens envolvidos no processo de investigação, não podemos esquecer de render agradecimentos e parabenizar o papel da Justiça e da Polícia Federal em todo esse processo). Contudo, NÃO ESQUEÇAMOS, O DESTINO PRINCIPAL DA MAIOR PARTE DO MONTANTE DE DINHEIRO ACIONADA PELOS ATOS DE CORRUPÇÃO ERAM DESTINADAS A COMPRA DE CONGRESSISTAS (DEPUTADOS E SENADORES DE PRATICAMENTE TODOS OS PARTIDOS), QUE ERAM "PAGOS" PARA VOTAREM DE ACORDO COM OS INTERESSES DAQUELES QUE OS "PAGAVAM". Então irmãos, deixaremos que esses mesmos bandidos escolham o sucessor para a Presidência da República? Ou pior, deixaremos nosso país nas mãos de pessoas tóxicas e mal intencionadas como Rodrigo Maia e toda a corja elitista de agentes políticos historicamente perniciosos para o progresso nacional como a bancada ruralista, o DEM, o PP, o PMDB, e mais recentemente, a bancada evangélica e alguns personagens do alto escalão do PT, do PSDB, do PL e de tantos outros que estão contribuindo para a sabotagem generalizada de nosso país???
         É momento irmãos, de corajosamente impulsionarmos, através de forte pressão popular, uma Reforma Política consistente, popular e de base! O que passa, em um primeiro momento, pela chamada de ELEIÇÕES DIRETAS para a Presidência!!! E dado a gravidade do envolvimento de deputados e senadores em todo processo de corrupção, tais eleições já deveriam inclusive implicar novas eleições também para deputados e senadores. Precisamos discutir e reformar profundamente nossas instituições políticas, PRECISAMOS ELIMINAR TODA QUADRILHA E NÃO APENAS MUDAR AQUELE QUE CHEFIA O BANDITISMO INSTITUCIONAL!

ENTÃO, FORA TODOS ELES!!!
REFORMA POLÍTICA, POPULAR E DE BASE JÁ!!!
ELEIÇÕES DIRETAS PARA PRESIDÊNCIA, DEPUTADOS E SENADORES JÁ!!!
ELES NÃO NOS REPRESENTAM!
O BRASIL MERECE MUITO MAIS!!!

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

A Transcendência do Ego

No Ritmo da Vida:
Na Batida Perfeita
Luciano Palm
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          A aurora de uma nova vida representa uma preciosa oportunidade para a redenção e reinvenção de toda humanidade, de toda esperança, de toda potência criativa. Todo o Reino da Possibilidades inicia um novo ciclo e faz a roda da vida girar renovada, fazendo do planeta palco para novas e renovadas experiências.
          A tecnologia, através de um ultrassom, possibilitou-me ver imagens um tanto difusas, mas suficientemente nítidas para me fazer tremer e arrepiar da base da coluna até o topo da cabeça, proporcionando-me um êxtase que jamais será esquecido. No entanto, muito além das imagens, o som captado foi qualquer coisa de transcendental. Uma vibração sonora potente e omnipresente pairava poderosa constantemente como pano de fundo... de repente, tal como uma locomotiva a todo vapor, irrompia tal qual o bater intempestivo dos tambores da vida o coraçãozinho de minha querida filha!!!
          Nove semanas e seis dias aparecia na tela, mais diversos números, medidas e proporções se anunciavam, associados a diversos termos biológicos e médicos que eram expressos pela médica para constarem no relatório que sua assistente digitava diligentemente. Os números e dados ficarão no papel, as definições e termos técnicos rapidamente se extraviarão do frágil alcance de minha memória. Mas a experiência propriamente dita, as imagens e principalmente o SOM, o OM omnipresente de fundo e as batidas do coração como se fossem os passos firmes deste novo Ser, já desde agora, e, mesmo antes, tão querido e amado, vindo ao encontro de nosso carinhoso e aconchegante abraço, meu e de sua mãe, que por ora realiza o poder divino da Deusa-Mãe em si, doando seu corpo de empréstimo a toda espécie, como solo fértil para nele brotar a semente dos novos tempos!
          A todos os Seres que recentemente chegaram por aqui, a tod@s vocês querid@s crianças, e, aos que ainda estão por vir: venham em paz, venham firmes e vigorosos, ajudem-nos a promover o Bem, a Justiça, a Verdade, a Beleza e o Amor Universal! Sejam felizes, que todos os seres sejam felizes! E vamos, vamos em frente tod@s, mas vamos de mão dadas nesta sagrada jornada da vida pequen@s companheir@s de viagem! Sejamos fraternos e solidários uns com os outros. E sempre seremos OM, Um com o Todo! Que assim seja!

_/\_OM NAMAH SHIVAYA _/\_

À minha Filha, minha pequena Devi: Surya de Luna Palm
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domingo, 16 de outubro de 2016

Utopia Tópica

Utopia Tópica
ou 
A Aurora dos Novos Tempos 
Luciano Palm
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     A presente reflexão se apresenta como adendo a anterior, A República Planetária. Com a intenção de dissolver, ou ao menos evitar, algum possível mal-entendido resultante das limitações de minhas habilidades literárias e expressivas, da própria linguagem ou das dificuldades compreensivas de alguns leitores, sempre queridos e profundamente respeitados. Me proponho inicialmente a esclarecer e me contrapôr a qualquer interpretação nihilista que sugira falsamente o pessimismo de se pensar que não há mais jeito frente as dificuldades contemporâneas, ou que pense que nada deve mudar no atual modo de ser hegemônico e que tudo está perdido para a humanidade contemporânea. Sinceramente, se pensasse dessa forma, trataria de canalizar minhas energias para outros propósitos, que não fossem a mera constatação tautológica da suposta desgraça definitiva. Se vivo e enquanto vivo, se falo e enquanto falo (mesmo no mais profundo silêncio) é porque tenho esperança e acredito firmemente no ser humano, nas forças divinas que animam o espírito da humanidade e num futuro-presente mais fraterno e sustentável para todos os seres da Terra.
     Inicialmente, de acordo com o que a tradição filosófica e socrática, assim como com o que a tradição védica e yogui, tornaram possível compreender, a raiz universal e cósmica para as dificuldades humanas é a ignorância superlativa e generalizada que envolve e encobre a humanidade sob o denso e nebuloso véu de ilusões, enganos, incompreensões, intolerância, violências de todas as ordens, falsas identificações e num desamor radical que faz com que irmãos olhem uns para os outros concebendo-se como adversários ou inimigos. Ainda de acordo e fazendo eco às mesmas tradições, digo que o fundamento para a superação de toda e qualquer dificuldade humana, ou o inimigo número um a ser combatido (se quisermos expressar em linguagem bélica, infelizmente tão familiar para a humanidade contemporânea) é a dissolução e a saída da ignorância. E, o caminho para se alcançar tal propósito é viabilizado através do despertar das consciências que, esclarecidas, iluminadas e atentas, natural- e espontaneamente encontrarão a rota para o Amor e a Fraternidade universais.
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     Mas, pois bem, alguns dos meus estudantes, em diálogo comigo fizeram a seguinte e difícil questão: professor, em sua perspectiva, objetivamente o que deveria ser feito, como seria possível fazer e quem pode ou poderia fazer alguma coisa frente as questões postas para a humanidade contemporânea? Diante da questão, insisto na necessidade da introdução de outro princípio socrático nessa altura da discussão, qual seja, o "só sei que nada sei". Pronto, dirão alguns, uma fuga tipicamente filosófica. Nada disso, com a introdução desse princípio apenas pretendo frisar clara- e pontualmente que não me coloco (nem jamais intencionei ou intenciono me colocar) na arrogante e pretensiosa posição de sábio absoluto e senhor da verdade (isto é, o clássico sophós ou sábio), mas quero demarcar claramente minha posição e o lugar (topos) de onde falo. Tal local se situa no interior das fronteiras da philo-sophia, na amizade-busca (permanente, sempre renovada e jamais plenamente realizada ou realizável) pela sabedoria (sophia). Viso a me colocar, nesse sentido, na posição humilde, aberta, franca e sincera do philo-sophós (amigo-buscador da sabedoria), isto é, do filósofo no sentido preciso e autêntico do termo e da atitude que a tal corresponde.
     No entanto, sempre consciente de minhas limitações, não me isentarei (assim como não me isentei na oportunidade do diálogo com meus estudantes) de apresentar algumas alternativas a partir do horizonte de minha perspectiva. Tendo a expectativa e intencionando, evidentemente, que algumas delas façam algum sentido e encontrem viabilidade empírica e pragmática. Mas, sobretudo, esperando que elas possam ser aperfeiçoadas, ampliadas, adequadas com maior justeza a cada realidade local e melhoradas na sua abertura para o diálogo com cada qual que, pacientemente, leu até agora essas palavras. Em verdade, esta reflexão intenciona ser apenas um convite para o aperfeiçoamento e desenvolvimento de cada um de nós e do mundo que todos nós, por ora, co-habitamos, e, que conjuntamente o entregaremos como legado às futuras gerações.
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     A primeira questão se refere ao "o que" poderia ou deveria ser feito? Nesse sentido, especificamente na atual conjuntura brasileira, primeiramente: FORA TEMER e toda a quadrilha de parasitas que, em sua grande maioria, ocupa atualmente o congresso e o senado federal brasileiro! Uma Reforma Política radical, madura, consistente e de base, a meu ver, é a resposta mais acertada para o verdadeiro "o que fazer?". Tal Reforma, precisa ter a sua origem na base, nas famílias, por isso é radical. É bem verdade também que, na reflexão anterior, eu me referia ao fundamento da transformação partindo do despertar das consciências individuais, e, é isso mesmo, toda transformação consistente e efetiva tem o seu ponto de partida na transformação e no despertar da consciência individual. No entanto, coletivamente, a Reforma Política necessária tem o seu início e possibilidade na abertura do diálogo no seio das próprias famílias que, atualmente sofrem com um alto déficit de comunicação e, sobretudo, compreensão mútua entre seus membros nucleares. 
     O que pode soar paradoxal a primeira vista, pois, dizem por aí que estamos em plena "era da informação", mas, infelizmente a falta de comunicação e entendimento na maioria dos lares mundiais é um fato na contemporaneidade. As famílias, em geral, não se reúnem nem no momento das refeições, se fragmentam e distanciam ao um almoçar ou jantar em frente ao computador, outro na poltrona em frente a tela de TV e outro ainda, isola-se na cozinha ou algum quarto da casa. E, quando finalmente estas verdadeiras mônadas se esbarram e ficam face a face, ao invés de melhorar, o problema só aumenta, não dialogam entre si, esbravejam, insultam uns aos outros e mutuamente (e sem qualquer peso na consciência) põem a totalidade da suposta culpa naquele que sempre é o culpado universal, ou seja, o Outro ou os Outros. Os pais dizem que a culpa é da rebeldia indomável dos filhos, os filhos juram que o problema é a caretice dos pais, os avós acreditam piamente que a fonte de todas as desgraças advém das tecnologias da modernidade, enquanto que os demais, bom, estes já nem se metem na conversa, pois, afinal de contas, que cada qual resolva os "seus" próprios problemas. Bem, permitamo-nos um pouco de ironia, mesmo que seja com coisas sérias, do contrário, rapidamente enlouqueceremos todos no grande manicômio global.
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     Aberta essa possibilidade de diálogo nuclear, no seio das famílias, podemos partir, inicialmente para o diagnóstico e, posteriormente, para a deliberação e a escolha dos meios para a solução das demandas colocadas. E, não nos enganemos, apesar de todos, ilusoriamente, pensarmos que cada qual é um acontecimento único e isolado na história humana, e, que os dramas, angústias e dificuldades enfrentadas no convívio familiar sejam um infortúnio exclusivo de nosso gene-familiar, que se limitam as fronteiras (em geral, muito bem muradas e gradeadas, ao menos no Brasil) de nossas casas. A verdadeira verdade é que, em quase toda a sua totalidade, as experiências humanas, individuais e coletivas, não passam de uma reedição de uma história que já se passou, em outros contextos, tempos e lugares, por nada menos do que uma infinidade de vezes. Desculpem se com essa revelação eu tenha eventualmente ferido o ego exclusivista de alguns. Mas, é como diz a letra de uma música que pessoalmente gosto muito, de uma banda que igualmente gosto muito: "Nem sempre é fácil de ouvir, mas sempre é bom de saber/ toda a verdade que você tiver para dizer" (Toda Verdade, Os the Dárma Lóvers, banda gaúcha da cidade de Três Coroas).
     Então, por exemplo, se eventual- e infelizmente hoje for eu ou algum familiar próximo que esteja enfrentando alguma dificuldade grave, a angústia do desemprego por exemplo, Ontem, no ano passado ou amanhã foi ou será o meu vizinho da esquerda ou da direita a enfrentar, infelizmente, o mesmo drama e a mesma angústia, terá mudado apenas o endereço e os personagens, não o enredo. De modo que, se as famílias e os vizinhos começarem a dialogar e compartilhar suas experiências, angústias, soluções e alternativas (e não apenas ficarem se exibindo ridiculamente uns para os outros com uma felicidade comprada a crédito que habita apenas, quando muito, os ciúmes dos outros, enquanto na intimidade do lar será penosamente frustrada pela dívida do empréstimo bancário ou do cartão de crédito), quando tal partilha se configurar em uma realidade de fato, aí sim, teremos aberto a caixa de Pandora e percebido que bem no fundo da mesma se encontrava a esperança que tanto almejávamos. É, inicialmente, este diálogo com os vizinhos de rua e de bairro que representará o ponto de partida para uma mudança efetiva e de fato. Era essa postura e atitude que considero terem sido as mais maduras e conscientes no momento e oportunidade das recentes eleições municipais brasileiras. Comunidades locais a diagnosticarem suas demandas e urgências e fazendo seus representantes ou candidatos se comprometerem com a realização das mesmas, sejam elas quais forem, uma creche para as crianças, uma escola, uma quadra poliesportiva para os jovens praticarem esportes, um parque comunitário para o lazer e convívio das comunidades. Ao invés disso, sejamos sinceros, ponhamos o dedo na ferida, o que se viu, em larga escala, foram a aceitação de propinas (pequenas e grandes), promessas de emprego no serviço público caso os candidatos fossem eleitos, ranchos, cargas de materiais de construção, e, desse modo, a lista de mesquinharias egoístas trocadas pelo voto popular só vai aumentando, em número e absurdidade.
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     É essa atitude básica que precisa rapidamente mudar. Depois, imagino que seja democraticamente salutar um processo representativo direto e de base em que nos bairros sejam escolhidos representantes para a deliberação nas cidades, nas cidades os representantes para as micro-regiões, nas micro-regiões os representantes deliberativos para os Estados, até finalmente edificarmos uma República Federativa Global e Planetária. Que delibere em rede, horizontal- e não verticalmente, as demandas humanas e planetárias. E que tal deliberação, insisto, se dê para além do estreito horizonte da economia, que ela se dê pela e para a perspectiva da vida em sua totalidade, pelo e para os humanos enquanto espécie e não enquanto grupilhos antagônicos, associações, organizações sectárias, seitas, religiões ou partidos políticos exclusivamente.
     Eu sei, a primeira vista pode soar bastante utópico e irrealizável, mas como disse inicialmente, o que proponho com esta reflexão é apenas o ponta-pé inicial para uma reflexão mais ampla que nos conduza coletivamente rumo às soluções mais conscientes e acertadas que nos forem possíveis. Desse modo, até o momento, acredito que as questões sobre o "o que", assim como sobre o "como" fazer algo, tenham sido abordadas, mesmo que rapidamente, não esgotadas é certo, pois, jamais foi ou será esta a intenção, dado que o projeto humano é, por excelência, um projeto inacabado e em eterna construção. Por último, cabe ainda uma reflexão, mesmo que igualmente rápida, sobre "quem" poderia ou deveria empreender as transformações tão almejadas. Pois bem, então vamos à ela.
     Antes, por ora, ainda uma última palavra sobre o "como". Nesse sentido, imediata- e objetivamente, no Brasil e no mundo, o "como" perpassa necessariamente pela pressão popular nas ruas, praças e em todos os lugares possíveis em que os anseios coletivos possam se fazer ouvir. Pois, é igualmente necessária a superação da compreensão medíocre e limitada de que o exercício democrático se encerra e se limita às urnas e aos dias de pleito. Esperar que os outros, sejam eles pessoas, partidos, ou o que seja, façam o que, em verdade, cada qual precisa e deve fazer por si e para si mesmo é estreito, ilusório, e, de uma imaturidade política que, sinceramente, beira a menoridade infantil.
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     Assim, chegamos finalmente a questão do "quem" poderia ou deveria fazer algo. Quem irmãos? Parem nesse momento, peguem simplesmente um espelho e encontrarão a resposta que esperam. SIM, sou eu, você, cada um de nós que pensam, tem consciência e coragem de assumir um compromisso maduro, consciente e responsável com o presente, com o futuro e com as futuras gerações desse planeta. Eis os únicos, autênticos e legítimos atores e personagens dessa mudança planetária e global. Mas, para isso acontecer, o primeiro passo deve ser dado agora, aqui e agora, por, com e em cada um de nós. Pois, se nós mudarmos com integridade, a partir da interioridade do despertar de cada consciência individual, certa-, segura- e forçosamente todo mundo exterior também mudará, como consequência lógica e efeito imediato do despertar e expansão das consciências.
     Do contrário, poderemos incansavelmente mudar as peças, e, inclusive o jogo se assim o quisermos, mas o resultado permanecerá e continuará sendo sempre o mesmo, ou seja, continuaremos a sair TODOS, a humanidade em sua totalidade e o planeta como campo em que esse jogo ignorante se desdobra, como eternos perdedores. O máximo de mudança que poderemos alcançar continuando a seguir a marcha da ignorância, será mudarmos de eternos para definitivos e derradeiros perdedores, quando tivermos esgotado as condições de vida sobre o planeta. Para finalizar definitivamente, lembremo-nos que, qualquer progresso, mudança, transformação ou desenvolvimento que matam ou conduzem à morte, jamais poderão legitimamente serem denominados de ganhos reais ou vitórias de fato. Sendo assim, parafraseando Gandhi, poderemos ter esperança, se formos, aqui e agora, a mudança que queremos no futuro-presente.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

A República Planetária

A República Planetária:
Comunidades Locais e a Teia da Vida
Luciano Palm
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          A globalização do modelo civilizatório ocidental fez com todos os recantos do planeta ficassem massificantemente semelhantes. Por todos os lados é a mesma exploração, é a mesma divisão, é a mesma deteriorização, é a mesma decadência suicida. O planeta se transformou em uma grande indústria, sujo e poluído como uma fábrica do século XIX, racionalizado e desumanizado como um campo de concentração do século XX, confuso, perdido e selvagem como a máquina corporativa e burocrática do mercado financeiro internacional dos séculos XX e XXI. Apesar disso, ainda há quem pense que as soluções para as mazelas do mundo possam brotar do seio da economia, com o aumento da produção industrial, com o fortalecimento do mercado financeiro e com a abertura de novas vagas de emprego (por mais, e cada vez mais, precarizadas que sejam). Como se todos os problemas da humanidade fossem resolvidos com o ajuste de contas da caótica e predatória contabilidade capitalista. Há também, no outro pólo, aqueles que numa leitura conjuntural esquizofrênica e descolada da realidade se imaginam na aurora do século XX, em pleno fluxo da revolução bolchevique, que acham que uma revolução socialista aos moldes de Marx e Lênin poderia representar a redenção da humanidade. A todos, um humilde e singelo convite: DESPERTEM DE SEU SONO DOGMÁTICO, POIS, DO CONTRÁRIO, AMANHÃ PODERÁ SER TARDE DEMAIS!
          Façamos agora uma análise mais pormenorizada da atual situação política brasileira, a fim de diagnosticarmos o quão distantes estamos da abordagem do cerne da questão e para verificarmos de que maneira estamos literalmente desperdiçando nossas energias e desgastando relações com tolices vãs e secundárias. Primeiramente... sim, "FORA TEMER"! Michel Temer na presidência do Brasil representa um retrocesso inacreditável na história política do país e uma vergonha internacional pelo modo escuso e desleal através do qual esse verdadeiro fantoche do capital especulativo internacional e sua quadrilha chegaram ao poder. Deixemos bem claro e digamos em alto e bom tom que são personagens nocivos e ultrapassados como Temer, Aécio Neves, José Serra, Fernando Henrique Cardoso e tantos outros parasitas mentecaptos que recentemente ocuparam ou ocupam os altos postos no cenário político brasileiro, que levam ilusoriamente a acreditar que personagens igualmente ultrapassados e incompetentes como Dilma Roussef, Lula e todo o seu bando possam representar algum tipo de solução alternativa.
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          Não levem a mal nenhum dos senhores acima citados, sinceramente não é nada pessoal, sou apenas um brasileiro e sobretudo um cidadão do mundo fazendo uso de sua liberdade de expressão para pensar em voz alta e publicamente. Reconheço inclusive a importância do papel de alguns dos senhores na história recente de nosso país. Em minha humilde visão, acredito que seja inegável, por exemplo, a relevância da atuação de Fernando Henrique Cardoso na estabilização e posterior melhoria da economia brasileira com a implementação do Real. Consigo identificar também, acertos e avanços significativos na saúde a partir das medidas propostas e implementadas por José Serra enquanto ministro. Acredito ser igualmente inquestionável, podendo inclusive ser refletido em dados estatísticos e sobretudo com exemplos reais que saltam aos olhos em todas as cidades brasileiras, as melhorias sócio-econômicas da maioria da população brasileira (especialmente dos historicamente menos favorecidos) no transcurso dos governos petistas, iniciados por Lula e que tiveram sequência nos governos de Dilma Roussef, até serem abruptamente interrompidos pelo golpe político promovido pela quadrilha que atualmente (e ilegitimamente) usurpa o poder político brasileiro a favor e serviço do capital internacional. Os demais personagens, por sua vez, minha lucidez e bom-senso impossibilitam a identificação de qualquer contribuição positiva, por ínfima que seja.
          Aprofundemos um pouco mais nossa análise, de modo a compreendermos com maior clareza e profundidade a co-relação de forças na atual conjuntura. Historicamente, as elites brasileiras governaram o país em seu próprio benefício com certa facilidade, auxiliadas e às custas, em grande medida, da ignorância, do analfabetismo político, da miséria opressiva da maioria da população e do poderoso apoio midiático concedido sobretudo pela Rede Globo e pelos principais órgãos da imprensa oficial do país.
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          Com a acensão de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da república, a histórica hegemonia política das elites foi abalada, ou ao menos parcialmente abalada, pois, a hegemonia econômica e parlamentar não deixaram jamais de lhes conceder um papel central no jogo político nacional. É conhecida e sabida a trajetória de Lula como o mais importante líder sindical da história brasileira, uma história combativa e de lutas que, em minha humilde opinião, é passível do mais sincero respeito e reconhecimento por parte da classe trabalhadora do Brasil e do mundo. 
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Contudo, também foi perceptível a guinada de Lula, do PT e de boa parte da esquerda brasileira que, em certo momento, resolveu entrar em acordo com os antigos coronéis da política e da elite nacional a fim de garantir a subida ao poder. Para que tal acensão fosse possível, foram dados claros sinais aos caciques do capital internacional de que o perfil revolucionário, que animara a trajetória sindical de Lula e do PT, haviam ficado no passado e de que a proposta e o compromisso assumidos a partir de então seria cumprir o papel de uma administração social-democrata com perfil mais voltado para o social (beirando, em alguns momentos, o populismo paternalista declarado). Assim, após longa batalha, Lula sobe ao poder ao lado de José Alencar (representante da tradicional elite nacional).
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Na presidência, Lula se beneficia e dá continuidade a estabilidade econômica iniciada nos governos FHC, além de ser favorecido pelo bom momento da economia mundial de então. Desse modo, consegue fazer um governo que agradou a gregos e troianos, beneficiou as elites com ganhos astronômicos e pode garantir uma melhoria sem igual para a vida de milhões de brasileiros, inserindo-os em patamares mais elevados na escala sócio-econômica. Tudo isso, associado ao enorme carisma e a grande habilidade retórica e oratória de Lula, colocaram os seus dois mandatos no governo na condição de quase inquestionáveis. Quase... não fossem os escândalos de corrupção que assolaram os altos escalões do governo, prejudicando assim o projeto sucessório do PT na sua intenção de permanência no poder.
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          Tais escândalos representaram o mote inicial para reacender os ânimos da tradicional elite política e econômica brasileira que se imaginava definitivamente ultrapassada e que já havia se acostumado com o papel de coadjuvante política, embora nunca tenha aberto mão de ser a maior e principal beneficiária dos ganhos e melhorias econômicas do país. Contudo, enquanto a situação econômica brasileira permanecia estável, com a classe média nacional podendo viajar de avião (pelo Brasil e pelo exterior), trocar de carro todo ano, comprar móveis, imóveis e supérfluos como nunca, não importava que a frente do executivo tivéssemos uma pessoa com pouco brilho político, nenhum carisma, com precária habilidade diplomática para costurar os acordos necessários com o parlamento, mas com uma suposta competência administrativa e econômica que acabaram sendo questionados pelos fatos e definitivamente ceifadas pelo golpe político.
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Mesmo assim, Dilma chegou ao seu segundo mandato com a aprovação e o apoio da maioria da população brasileira. Ao seu lado, até então insignificante e praticamente imperceptível, um personagem apático que é posto na vice-presidência por representar o maior partido político brasileiro (PMDB que, historicamente, sendo posição ou sendo oposição sempre foi governo), identificado naquele momento pela cúpula do PT como importante aliado no congresso nacional para a aprovação dos projetos do governo. Para sermos justos, enquanto vice-presidente, Michel Temer só não foi completamente ignorado graças a presença ao seu lado de sua atual esposa, uma jovem ex-modelo que se apaixonou lindamente por um esbelto representante da terceira idade (por prudência, nesse caso, fiz uso do recurso da ironia) e agora encena o papel de boa moça "recatada e do lar" em frente as câmeras da mídia global.
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Mas, enquanto tudo isso acontecia, a verdadeira verdade é que a elite brasileira remoia rancorosamente a impossibilidade de voltar ao poder pela via democrática. Especialmente após a vitória de Dilma Roussef sobre Aécio Neves para o seu segundo mandato.
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          A crise econômica enfrentada pelo governo Dilma em seu segundo mandato, associada a incompetência generalizada do governo ao lidar com a mesma, tiraram a classe média brasileira de sua zona de conforto, ameaçando a mesma do usufruto do sonho do american way of life, criando assim, as condições necessárias para uma virada de mesa no jogo político brasileiro. Velhos abutres voltaram a apresentar suas garras, a mídia golpista que apoio o golpe militar na década de 1960, agora aliada aos antigos coronéis da política, ao grande empresariado nacional encabeçado pela FIESP e aos interesses especulativos do capital internacional, engendra e leva a cabo o vergonhoso golpe político brasileiro de 2016.
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Nesse contexto, não importa que Lula e os governos petistas não tenham sido corajosos o suficiente para honrarem sua trajetória histórica e levar a cabo reformas políticas mais consistentes favorecendo mais incisivamente a classe trabalhadora, ou uma reforma agrária que amenizasse as injustiças no campo que remontam desde a origem da república brasileira, não importa que, durante os mesmos governos, o grande empresariado e os urubus do mercado financeiro tenham obtido lucros estratosféricos; ainda assim e apesar disso, sob o pretexto hipócrita do combate a corrupção e empunhando a bandeira do combate ao suposto "comunismo petista", a elite brasileira foi às ruas, com sua cara lavada e vestindo suas camisetas nike da seleção para destituir Dilma e pôr em seu lugar uma figura suficientemente inexpressiva que levasse a cabo todos os projetos, por mais absurdos e danosos que fossem para o conjunto da população brasileira e mesmo para os interesses estratégicos nacionais, que satisfizesse os interesses dessas mesmas elites e fizesse a alegria do capital especulativo internacional.
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Sob o pretexto hipócrita do combate à corrupção, um parlamento corrupto, apoiado por uma população alienada, ignorante e igualmente corrupta, destituiu uma presidenta legitimamente eleita, e tudo isso, em nome da democracia. Desculpem, mas esse paradoxo, para mim, beira o absurdo e a insanidade derradeira. Soa mais ou menos assim: "Para melhorar o que está ruim, vamos piorar ainda mais". Isso simplesmente não faz sentido! Reflitam, pensem um pouco e tirem suas próprias conclusões.
          Agora o que temos então, após uma série de absurdos já empreendidos e outros tantos ainda por serem executados pelo governo Temer, que vão desde a entrega do Pré-Sal ao capital internacional, perpassando por uma Reforma do Ensino que visa criar "um estoque populacional para a indústria" (nas palavras de um empresário convidado a sugerir propostas para a educação pelo alto escalão do MEC, que ouviu atentamente também as sugestões de um sábio ator da indústria pornográfica), culminando na aprovação da PEC 241 pelo congresso nacional, que representa um golpe aterrador aos interesses públicos nacionais, o que temos definitivamente é um partido... um país partido, partido e quebrado em vários cacos: "Fora Dilma", "Fora Temer", "Fora Todos", "Eleições Diretas Já". São múltiplos e variados os cacos em que a nação brasileira se vê atualmente partida.
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          Mas eis que chega o momento de acordar, despertar e maduramente encarar de frente o cerne da questão, a partir de então sim, arregaçar as mangas e pôr mãos à obra. E o cerne da questão a que me refiro já não se restringe apenas as fronteiras nacionais, diz respeito, isto sim, à República Planetária globalizada. O cerne da questão irmãos, corresponde ao colapso do projeto iluminista e da Modernidade ocidental, do qual a ruína dos Estados Nação são apenas um adendo. A crise verdadeira é uma crise civilizatória que, se não for devidamente tratada e encarada colocará definitivamente em cheque a possibilidade da vida humana sobre o planeta!
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A solução para a mesma, até onde isso ainda se encontra no alcance de nossas humanas possibilidades, não virá seguramente de qualquer governo, nem de qualquer revolução social ou política, sequer da ausência e da extinção de todos os governos. Por favor, paremos e pensemos juntos ao menos por um momento, sem uma autêntica e verdadeira revolução interior do despertar das consciências e do rompimento do denso véu da ignorância, nem Dilma, nem Temer, nem nenhuma Revolução social e política, nem, muito menos Obama, Hilary Clinton ou a besta quadrada do Trump com suas blasfêmias estapafúrdias poderão resolver qualquer problema, em verdade, poderão quando muito agravá-los e intensificá-los. A verdadeira solução se encontra, parte e perpassa pela transformação de cada indivíduo, da transformação profunda de sua consciência, no despertar da mesma, para que então possamos nos abrir em diálogo edificante e solidário com os outros indivíduos que coabitam o mesmo planeta conosco, para deliberarmos, consciente e lucidamente sobre as reais demandas e prioridades de nós mesmo enquanto seres humanos e planetários, de nossas famílias, de nossas comunidades locais (bairros, cidades, províncias ou Estados), países, continentes, até que enfim, toda a República Planetária possa se converter num verdadeiro lar para os humanos e todos os demais seres que a Terra abriga e acolhe (e não uma perigosa bomba relógio atômica prestes a explodir a qualquer instante).
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          A mudança verdadeira irmãos, implica em uma mudança de perspectiva e de atitude radicais. Que, sinceramente, em nada se assemelha com o que pude observar nas recentes eleições municipais brasileiras, o que vejo, mesmo à distância, nas campanhas para a eleição presidencial norte-americana e que, infelizmente, se reproduz em escala global, em que o egoísmo universal faz com que cada qual visualiza e objetive apensa o seu mesquinho e privado ganho pessoal, na maioria das vezes, às custas do agravamento do colapso de todo planeta. Reunamo-nos em assembleias: famílias, bairros e cidades. E vejamos o que, a partir desses horizontes locais despontam e se colocam como legítimas demandas e urgências. E olhemos por sobre os muros da economia, olhemos pela perspectiva da vida em sua totalidade e compreendamos os humanos como membros dessa grande Teia da Vida (assim como os indivíduos o são da teia social, se não for assim, os indivíduos passam a representar células cancerígenas a prejudicar o bom funcionamento da totalidade). Apenas desse modo irmãos, deixando de concebermo-nos e identificarmo-nos uns aos outros mutuamente como adversários ou inimigos, poderemos olhar para o futuro como um horizonte de vida e não como um campo de morte e o ponto derradeiro da jornada humana. APENAS SE TOMARMOS HOJE, AQUI E AGORA, AS DECISÕES E POSTURAS CORRETAS, SEREMOS DIGNOS DO AMANHÃ, CASO CONTRÁRIO, AMANHÃ PODERÁ SER TARDE DEMAIS. 

domingo, 2 de outubro de 2016

A Festa da Democracia

Pão e Circo
Luciano Palm
     Pensemos um pouco sobre o dia de hoje... (02/10/2016, eleições municipais no Brasil).
    Neste exato momento ou logo mais, dependendo do fuso horário ou dos trâmites técnicos envolvidos nas sofisticadas eleiçoes digitais do Brasil, todos os municípios brasileiros assistirão a festejos intempestivos, um verdadeiro circo dos horrores, regados a muita cerveja e desabafos apaixonados e ofensivos dos "vitoriosos" jogando na cara dos "derrotados" a sua vitória nas eleições que, na maioria dos casos, foi paga com o comprometimento do futuro dos próprios municípios e dos munícipes que hoje "ganham" o seu esquecimento com a embriaguez momentânea.
    Dentre os problemas e dificuldades da democracia ocidental, especialmente no formato em que se dá no Brasil, as eleições municipais são aquelas em que se escancaram as baixarias mais lamentáveis no que se refere à corrupções de toda ordem, envolvidas em um espírito futebolístico e orquestradas pelo egoísmo generalizado. Infelizmente, considerações sinceras que intencionam o Bem público e coletivo são raríssimas e não são as que ficam em maior evidência.
     Enquanto os futuros governantes ficarem se comportando como verdadeiros marginais (como ocorre sabidamente na maioria dos municípios brasileiros), em que candidatos dos mais variados partidos se perseguem e se agridem mutuamente, subornam descaradamente populações inteiras com propinas para os mais variados bolsos e valores. E, por outro lado, os hipócritas críticos da corrupção de amanhã aceitam calados e contentes o seu quinhão da vergonha generalizada e patética da distribuição de propinas e favores oferecidos ou prometidos pelos atuais candidatos e futuros "zelosos" guardiães do bem e dos interesses públicos. Sejamos sinceros... continuaremos torcendo para que tudo dê certo, mas estaremos fazendo ou estamos fazendo tudo errado!
     Sinceramente, enquanto a vida política e social for resolvida na base da barganha, poucas serão as esperanças de melhoras. Enquanto a coisa pública for alvo do saque egoísta de grupos unilaterais que promovem verdadeiras batalhas e guerras (com as baixarias mais asquerosas), a vida coletiva não irá melhorar, e isto por uma questão lógica, NÃO HÁ COMO DAR CERTO, FAZENDO TUDO ERRADO!
     Então, hoje é PÃO E CIRCO!!! Bebam... bebam e festejem em polvorosa todos os "vencedores"! Bebam e festejem hoje a derrota e o saque de suas cidades amanhã. Ah, e lembro-lhes... não há cerveja ou cachaça que vos faça esquecer de que foram (fomos todos como sociedade e cultura corrupta) que legitimamos e referendamos o estado de coisas em que estará o futuro de todos nós amanhã. UM BRINDE A TODOS!!!
     E ainda alguns chamam a tudo isso: a "festa da democracia", sinceramente meus conceitos de festa e democracia são um pouquinho diferentes.
     Só para pensar...

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A esfinge e o homem


 Tatiana Palm

 
 
 
Se formos para o Egito, certamente, é para conhecer as pirâmides que mais do que túmulos de faraós (como apendemos na escola) são templos de iniciação. Em frente à grande pirâmide de Giseh, voltada para o sol nascente, nos depararemos com a esfinge. Ao olhar para este grandiosa imagem, o que nos viria à mente? O que ela, efetivamente, simboliza (representa)? A esfinge, comumente, é sinônimo de enigma indecifrável, mas, como coloca Pierre Weill, tudo indica que ela era a guardiã simbólica dos segredos iniciáticos. No Egito antigo, existiam as escolas dos mistérios, com ritos secretos, que, primeiramente, o filósofo pré-socrático Tales entrou contato e, seguindo o mesmo caminho, Pitágoras e Platão. As escolas dos mistérios se localizavam junto aos templos situados ao longo do rio Nilo e, em seu interior, transmitia-se o conhecimento das coisas celestes e divinas, um saber acerca de si e do todo que, na verdade, não era disponível e acessível a qualquer um. Nos templos existiam os sacerdotes (que eram os mestres) e ao redor deles se formava um círculo fechado de conhecimento, o círculo dos discípulos e iniciados, os quais recebiam informações e instruções práticas, treinamento (por meio de exercícios), e, provas (práticas) que visavam avaliar a apropriação do conhecimento e regulavam o acesso gradativo a níveis de conhecimento cada vez mais elevados. A educação sacerdotal, portanto, não se limitava em transmitir o conhecimento teórico e simbólico, mas também envolvia um conhecimento obtido por meio do cultivo de si que deve se refletir mediante atitudes em relação a si mesmo e posturas diante dos outros, da vida e do cosmos.

Nesse sentido, podemos dizer que os segredos iniciáticos, “eram comunicados, juntamente com uma prudente modelagem do comportamento no sentido de um domínio dos condicionamentos pelo homem”, ou seja, mediante a demonstração (do iniciado) de um domínio e aperfeiçoamento de si que, em última instância, se manifesta como o equilíbrio mediante a dualidade existente tanto no universo (macrocosmos) como na vida (microcosmos). O equilíbrio que se encontra através dos pares de opostos é simbolizado pela base da pirâmide de Giseh e, certamente, obtido pelo crescimento espiritual do iniciado na escola egípcia, que, por sua vez, está simbolizado na esfinge, guardiã da pirâmide de Giseh, virada para o lado do sol nascente, isto é, voltada em direção à fonte da energia solar, para o lado da luz. Segundo a tese que Pierre Weill apresenta em seu livro “Esfinge: estrutura e símbolo do homem”, a esfinge de Giseh representa, para além do que colocamos aqui, a evolução consciente do homem, e, assim sendo, simboliza uma mensagem para as gerações futuras. É isso, precisamente, o que procuramos esclarecer em seguida.

 


A esfinge é um símbolo que pertence a diferentes tradições, porém, aqui nos limitaremos a comentar sobre o que ela representa na tradição egípcia, já que a esfinge de Giseh, é considerada a mais antiga que conhecemos até hoje. A esfinge egípcia compõe-se de três elementos: cabeça humana, corpo de leão e serpente. Há esfinges, geralmente, as mais recentes, que possuem quatro elementos: o leão ou o boi, a figura humana, a águia e a serpente.  Para compreender a tese apresentada por Pierre é preciso explorar o significado de cada parte que compõe a esfinge, mais exatamente, a cabeça de homem, o corpo de leão e, por fim, a serpente que, em tamanho minúsculo relativamente ao corpo, aparece localizada no centro da testa. Os animais, de modo geral, são usados como símbolos representativos da nossa vida instintiva, da nossa animalidade, mas não é o caso da serpente, pois aqui ela representa a sabedoria e, enquanto tal, conduz a um estado de consciência mais elevado – nos torna divinos.

A esfinge, enquanto um modelo evolutivo do homem, nos indica que em todo ser humano há um animal, ou vários, já que, conforme mencionamos, algumas esfinges como, por exemplo, nas Assírias e Persas, possuem além dos elementos da esfinge egípcia, o boi e águia. O boi (o touro) é um animal ruminante que simboliza o instinto agressivo e sexual.  A águia, por sua vez, simboliza para os antigos, a visão apurada, isto é, a inteligência, a mente, poder e domínio dos instintos, a liberdade. Já o leão representa a impulsividade, o sentimento, o coração, enquanto que a serpente, que aparece em todas as civilizações antigas, é o símbolo da energia (força) criadora (inclusive sexual), do saber e poder supremo e, assim, da transcendência. A animalidade, no entanto, deve ser dominada para que possamos despertar o poder da serpente e, portanto, atingir estados mais elevados de consciência.


Ao nos limitarmos aos elementos presentes na esfinge de Giseh, podemos dizer que a evolução do ser humano se dá na medida em que ele se sobrepõe ao animal que todo homem tem em si. A força do leão deve ser dominada pela inteligência humana. Somente quando os instintos relacionado a geração e conservação da vida e, além disso, as reações automáticas (as emoções) forem controladas podemos evoluir. Para abandonar a animalidade, para elevar-se da condição de animal é necessário ter controle sobre si, o qual, por sua vez, pode ser aprendido. Entretanto, o controle sobre o instinto (de defesa) e o domínio dos sentimentos que podem ser efetuados pela inteligência (pensamento) não são suficientes. A própria inteligência ou mente deve ser treinada para que possa atingir a transcendência. De outro modo e mais detalhadamente, podemos dizer que o homem é capaz de aprender e dominar o leão que representa as paixões, o boi que representa nossa vida sexual e orgânica bem como a águia que representa a nossa mente (pensamentos). É dessa maneira que ele pode dominar a energia criadora (da serpente) e isso faz com que ele transcenda a condição de humano. Na medida em que alcança o controle da energia suprema, atingirá, então, a felicidade e a serenidade espiritual dos deuses, expressada no semblante da própria esfinge antes dela ter sido desfigurada por várias batalhas.

Tanto a inteligência (mente) humana quanto o leão (instinto/emoções) e a serpente (energia criadora) representam, portanto, três forças da natureza que o homem precisa ter consciência e aprender a controlar para assim tornar-se um ser superior, ou ainda, um ser iluminado. É através da evolução, que passa por três estágios: pelo controle das reações automáticas, domínio da mente e do uso consciente da energia, que o homem pode atingir a iluminação. É inevitável aqui lembrar do yôga. Este caminho visa justamente alcançar a  iluminação por meio de uma aperfeiçoamento do ser humano, logo, está intimamente relacionado com a descrição e o significado que aqui apresentamos da esfinge egípcia. Entretanto, isso será assunto para um outro textos. Agora, simplesmente queremos finalizar dizendo que, do pont de vista de Pierre Weill, a mensagem que a esfinge de Giseh transmite para as gerações vindouras é a do “vir a ser’ do homem. O homem pode superar a própria animalidade e ter controle consciente de si e da sua energia e assim tornar-se um ser superior (divino). Este “vir a ser”, na verdade, está em suas próprias mãos.

 

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Vipassana: o silêncio de dez dias

 
Tatiana Palm
 


Dez dias de silêncio. Todos saem dele tão cheios, com tanto pra falar e, eu, tão vazia. Não havia nada em mim para ser dito. Ao final, o que dizer? Que foi intenso quanto aos ensinamentos e na mesma proporção no sofrimento, no conflito? No silêncio algo em mim gritava, constantemente. No barulho de um silêncio angustiante falava ora a consciência de não estar inteiramente entregue como havia me comprometido, ora o sofrimento e a difícil aceitação de estar ali, aparentemente, no caminho do descaminho. Foram dez dias de imersão em si mesmo, dez dias sem falar, sem ler, sem escrever, e, em que se evitava, inclusive, o contato visual. Já no final do primeiro diz quis fugir, arrumar as malas e partir. Quase todos os dias pensava em desistir. Não houve um único dia que não senti dor. O corpo e a mente gritavam para sair de lá. O que me confortava era ter compreendido que a natureza de todas as coisas é a impermanência. Assim, consciente de que a dor e o tempo eram impermanentes, chego ao fim. E, no fim, o que encontro? O nada. Existia em mim um espaço vazio, simplesmente. O choro brota e não faz questão de esconder-se tampouco quer cessar. Choro sem porquê assim como a flor vive, sem porquê.

“A vida é sofrimento” diz Schopenhauer, influenciado pelo pensamento budista. O sofrimento, já faz algum tempo, é estranho para mim, certamente, porque o estado de onde parti para envolver-me com o silêncio de dez dias era de paz e equilíbrio, sem dúvida, por estar na natureza. Retiro-me. Recolho-me. Silencio. Sofro. É difícil aceitar o sofrimento, principalmente, quando se está apegado a um estado de silêncio e contentamento (alegria e presença). Agora, me era exigido aceitar o estado de silêncio e sofrimento. Na perspectiva budista, todo sofrimento é positivo, existe para ser superado. Como? Buda aponta o caminho: a liberação do sofrimento é dada por Dhamma. O caminho de Dhamma é o que fomos aprender ali, na quietude dos dez dias. Esse caminho envolve três elementos (treinamentos): silasamãdhipaññã. Sila diz respeito a moralidade, mas não tal como a compreendemos habitualmente, senão em um sentido mais amplo. Em outros termos, refere-se ao colocar-se em acordo com a lei da natureza. Como sou parte do mundo natural, devo seguir a mesma lei, a da natureza. Comprometidos com sila adentramos na esfera da mente, habitualmente insensível e grosseira. Samadhi, a concentração em um único ponto visava não apenas o domínio da mente senão também deixa-lá mais refinada, com maior sensibilidade.



Da sensibilidade da mente ao mundo das sensações. Tornamo-nos caçadores das sensações. Conscientes do corpo é preciso tornar-se conscientes das sensações que por ele passam, em cada uma das suas partes. Certamente, o que primeiro percebemos são sensações grosseiras, a mais densa, a dor, e, outras ainda, como o calor e o frio; progressivamente, é possível perceber as sensações mais sutis tais como vibrações, descargas elétricas (arrepios), o corpo em uma única pulsação. Quando a mente for sensível e suficientemente atenta e equânime poder-se-á sentir sensações por todo o corpo, diferentes sensações. Mais do que isso poderemos chegar ao estado de dissolução. Tornar-se um fluxo sutilmente livre a ponto de dissolver-se as fronteiras entre externo e interno, o que nada mais é do que tornar-se o espaço de pura energia, de vibração (ondulações). O espaço não delimitado é o vazio que pulsa, pulsa, e, vive (está vivo).

Quando nos voltamos para o mundo das sensações entramos em vipassana, o espaço de paññã – a verdade (sabedoria). Para isso partimos da realidade tal como ela é: a partir do corpo, as sensações. E tudo começa com a respiração tal como ela é, e, através do corpo, chegamos até as sensações tal como elas são. Não é preciso fazer nada, apenas estar atento as sensações, sejam elas grosseiras ou sutis. Na verdade, não há grau de valor entre umas e outras, o que importa é reconhecer que todas possuem a mesma natureza, a de ir e vir, de surgir e desaparecer. Elas passam, eu passarinho”. Como passarinho é preciso estar além, livre, do movimento de ir e vir; acima do fluir ocasionado pela impermanência. Vipassana nos faz compreender que a natureza de todas as coisas é anicca - a impermanência. Estar no mundo de maya é, exatamente, não reconhecer que tudo passa, que tudo é e não é, que tudo muda. Vipassana nos faz experenciar, a partir da dor, a impermanência das sensações e nos ensina a equanimidade diante delas. Ser equânime significa não reagir, não possui aversão nem avidez pelas sensações que passam por nosso corpo, que vão e vem, que são agradáveis e desagradáveis. A avidez envolve o desejo e o apego - o alimento do ego, enquanto que, a aversão envolve a raiva. A equanimidade está acima disso, é a estabilidade mental que, por sua vez, conduz a um estado de paz e alegria. A equanimidade mental é liberta(D)or.

A equanimidade que aprendemos a desenvolver frente as sensações que passam pelo corpo se estende ao que se passa fora de nós, no mundo exterior. Equânimes frete as situações da vida, por aceitar e reconhecer a impermanência de tudo o que existe, seremos humanos libertos de todo e qualquer sofrimento. Equânimes viveremos equilibrados e em paz, um estado de consciência superior àquele que a maioria de nós se encontra, um estado mental conturbado, contaminado, sujo como a água de um rio. Filosoficamente, podemos dizer que a equanimidade é, em última instância, a superação do mundo da dualidade. Quando nos tornamos equânimes deixamos de alimentar a mente e, simplesmente, nosso ego se dissolve. Se não temos nem aversão nem avidez, no espaço do nada, os sankhãras, velhos e subterrâneos, começam a vir à tona. As sensação, segundo a visão de Buda, são vibrações que ressoam até o inconsciente, logo, temos acesso aos porões do nossa mente pelas sensações. Quando criamos o espaço para que elas se manifestem, para que espontaneamente as sensações surjam e desapareçam, em última instância, possibilitamos ao inconsciente se tornar consciente e, assim, uma cura acontece. Uma mente equânime torna-se assim uma mente pura (pois está livre de traços que lhe marca profundamente) e uma mente estável (pois, deixa de criar novos sankhãras, as reações de desejo ou, o contrário, de repulsa ou raiva.


 

Na perspectiva de Buda, existem quatro grandes nobres verdades: primeira, o sofrimento existe. Todos sofremos, o que experimentamos coletivamente no retiro de dez dias. Segunda, a causa do sofrimento é interna: sofremos porque reagimos as nossas sensações. Aquelas que nos agradam conduzem ao desejo e ao apego e as desagradáveis nos dão aversão e, assim, não aceitamos as coisas tal como elas são, e, sofremos por elas não serem tal como gostaríamos que fossem. Não reconhecemos a impermanência de tudo o que existe, inclusive, em nós mesmos. Terceira, o fim do sofrimento se dá pela equanimidade. Equanimidade, basicamente, consiste em não reagir diante das sensações, mais além, diante do mundo. É não estar envolvido com o que passa, com o que muda, em outras palavras, estar liberto do mundo da dualidade, dos pares de opostos. Filosoficamente, podemos dizer que superamos a ilusão, o mundo das aparências quando nos tornamos equânimes. A quarta e última verdade diz respeito ao caminho que conduz e envolve a equanimidade. O caminho de Dhamma é o que trilhamos durante os dez dias de silêncio, do sofrimento e da verdade experenciada em si mesmo: a verdade do sofrimento, a verdade da impermanência, a verdade da equanimidade, a verdade da alegria. Vipassana, é ir as coisas mesmas, deixar elas ser o que são: impermanentes. Não se envolver, apenas observar: sem envolvimento, não há reação apenas presença, atenção. É manter-se além de: da aversão-avidez, do desejo-raiva, do agradável-desagradável, portanto, é a transcendência da mera dualidade, o mundo da ilusão. É aprender a ser o observador do que se passa em si, mediante a aceitação da realidade tal como ela, consciente da sua impermanência. Ir as coisas mesmas significa, então, em última instância, tornar-se um eu observador (de si), um observador equânime na impermanência do que é vivo: um dançarino em equilíbrio no dinâmico.


 

domingo, 15 de maio de 2016

Filosofia?




É ser-no-mundo
É saudade de casa
É transcendência
da ignorância: 
que nos faz ser prisioneiros e mendigos
É o retorno ao lar:
pela renúncia dos prazeres dos sentidos,
pela quietude da mente
É Alétheia conquistada
Pela ignorância consumida
É conhecimento alcançado
pela via da intuição:
via da deusa, do Daimon
É a verdade manifesta no silêncio

Amor Incondicional

Tatiana Palm


Amor que sou sem ainda ser
Amor incondicional
Que está no germinar e gerar da vida,
(cultivo de mãe)
Na devoção ao divino, ao mestre
Na neutralidade dos contrários
um estado elevado
do Buda desperto, de Shiva cultivado
no cuidado de si
Está na entrega, aceitação e renúncia...
no aperfeiçoamento do si diante do outro
Que possui o que sou
E me faz buscar o melhor de mim
Está na manifestação da alegria
que é desrazão
da razão de ser quem se é ...
Dasein, Presença
Amor que é gratidão
por tudo, à todos
Amor que não é posse senão do si
Do Ser que sou
Amor que tem como tempo o eterno
Presente
Amor que só acontece no presente
Amor do presente,
da existência tal como é
Amor fati
A serenidade  diante do vestígio
do retorno do mesmo

...

A filosofia como cuidado de si



Do presente voltar ao passado, não para alterar nada
mas apenas para perceber a evolução do si mesmo.
E, foi assim, revisitando o passado, 
que fiz a descoberta de um texto
(trabalhado no início de um ano letivo)
onde apresento uma compreensão de filosofia
que ainda sustento e que, 
agora, compartilho.
Tatiana Palm


Deve haver algum motivo que justifique a presença de vocês aqui neste momento, em uma aula de filosofia. Para fazê-los compreender o porquê de estarem aqui, temos que compreender antes a condição, ou o estado, em que se encontram todos aqueles que ainda não iniciaram o percurso da filosofia nem o exercício do cuidado de si.
Vocês, que estão aqui, estão à mercê de todos os ventos, abertos ao mundo exterior, ou seja, são como folhas mortas carregadas de um lado para o outro pelo vento. Vocês estão abertos ao mundo exterior de modo tal que, quase sempre, se deixam levar ou governar pelo que lhes vem de fora (pelo exterior). Nossos desejos, nossas ambições, nosso modo de agir, nossa maneira de pensar é moldado pelo que nos é exterior. Vocês não somente são influenciados e moldados pelo mundo exterior como também estão dispersos no tempo. A maioria de vocês deixa a vida correr e dificilmente dirige a atenção, o seu querer, em direção a uma meta precisa e bem determinada. Deixa a vida correr, muda continuamente de opinião, não pensa na velhice, quer várias coisas ao mesmo tempo. Mas quer com inércia, quer com preguiça e sua vontade muda constantemente de objetivo.
Esse estado-comum ou lugar-comum em que vocês se encontram é de onde se deve sair. Porém, ninguém está suficientemente capacitado para sair sozinho deste estado. É preciso que alguém lhe estenda a mão, é preciso alguém que o puxe para fora, para, desse modo, sair do estado, da condição, do modo de vida, do modo de ser no qual se está.
A filosofia é este “alguém” que estende a mão, que convida vocês a saírem do modo de vida em que se encontram e no qual estão apegados. Como a filosofia faz isso? Convidando-os a cuidarem de si mesmos, a se ocuparem de si mesmos ou a preocuparem-se consigo. Ao incitar os outros a se ocuparem consigo mesmos, ela desempenha o papel do “despertador” (aquilo que desperta). O despertar é o momento em que os olhos se abrem, em que se sai do sono. É o princípio de uma agitação, inquietude, de um estranhamento. Por isso, iniciar o percurso da filosofia é ir na contramão do que faz a maioria, é voltar o olhar para si mesmo e isso significa que é preciso desviar o olhar das coisas do mundo, das coisas que nos ocupam, dos outros, da agitação cotidiana. É preciso desviar-se para virar-se em direção a si. Isso, para muitos, pode parecer desprezível, sem valor, sem sentido, inútil.
O cuidado de si será, portanto, aquilo do que nos ocuparemos em nossas aulas de filosofia e aquilo de que vocês incessantemente devem se ocupar durante toda a vida. Pois bem, muitos de vocês devem estar se perguntando sobre por que cuidar de si? Ora, porque o nosso si mesmo é esquecido na nossa vida cotidiana. Vocês se preocupam em adquirir dinheiro, reconhecimento (admiração), em ter um bom emprego e sucesso; se ocupam com o corpo (aparência), com a reputação, com o amor, com tantas coisas, mas não se ocupam e preocupam consigo mesmos. O cuidar de si mesmo não é o cuidado do corpo, nem tampouco o cuidado dos bens e também não é o cuidado amoroso.
Deves cuidar de ti mesmo. Mas o que é este si mesmo com que devemos nos ocupar? O que é cuidar ou ocupar, ou preocupar-se? Sabemos o que é ocupar-se com nossos sapatos, nossa casa, nossa saúde, com os estudos, mas corre-se um grande risco de não saber bem o que fazer quando se quer ocupar-se consigo mesmo. Pois bem, o si mesmo é o eu que, por sua vez, deve ser compreendido como o “sujeito de”: ações, comportamentos, relações, atitudes, etc. Assim ocupar-se ou cuidar de si mesmo não é outra coisa senão ocupar-se do eu, do “sujeito de”. Já o cuidar (o ocupar-se, o preocupar-se) de si deve ser entendido como um conjunto de práticas (atitudes), que devem ter efeito sobre o modo de ser de vocês, ou, melhor dizendo, no modo como vocês vivem (ou existem) no mundo.
O cuidado de si mesmo implica em um conjunto de práticas e exercícios que visam a transformação do sujeito. Dentre essas práticas sobressaem-se o conhecimento de si, tanto objetivo quanto subjetivo, ou seja, o conhecimento filosófico-científico sobre o mundo e o próprio ser humano e o autoconhecimento, incluindo nestes os exames de consciência, os exercícios de meditação e reflexão e a auto-avaliação diária das ações, vontades, pensamentos, etc.
Filosofar, então, será, antes de tudo, ter cuidado com o próprio eu, com o sujeito que cada um de vocês é, e, ter cuidado, significa, ter conhecimento a respeito de si mesmo. Isso tem por objetivo ou finalidade não apenas fazer de vocês, que se ocupam de si, pessoas diferentes em relação à massa, a maioria, mas, principalmente, fazê-los melhorar ou transformar o próprio modo de ser (comportamento, atitudes, escolhas) para, desse modo, poder melhorar ou transformar o mundo em que vivemos.
O cuidado de si torna-se assim uma atividade de questionamento, de reflexão e de crítica, em primeiro lugar, em relação a si mesmo, em segundo lugar, em relação ao mundo. Mas, o papel do cuidado de si não será somente crítico senão também formador, ou seja, existe uma formação ligada ao cuidado de si, mas não uma formação em função de um fim profissional determinado, mas sim uma formação corretiva. Isso se resume na idéia de que o objetivo da prática do cuidado de si em sala de aula tem a função de corrigir (nosso modo de ser) mais do que instruir (transmitir um saber).
A questão final que se coloca agora é: quando praticar o cuidado de si? O tempo todo estamos envolvidos demais com as coisas do nosso mundo (trabalho, cursos, esportes, festas, estudos, internet) e parece que elas nos consumem a todo tempo. As vezes até parece nos faltar tempo para fazer tudo o que achamos que devemos fazer. E quando sobra tempo, a maioria costuma não saber como aproveitá-lo, ficando diante da TV ou na internet sem nenhum propósito, dormindo, etc. Este tempo livre que se costuma desperdiçar com coisas vãs, era compreendido pelos antigos como o ócio, ou seja, um momento precioso e condição sem a qual o cuidado de si mesmo não poderia ocorrer.
Como atualmente o ócio, isto é, o “tempo livre” necessário para o cuidado de si é considerado um tempo morto, como é difícil para vocês em seu “tempo livre” ocuparem-se consigo mesmos então, isto será feito na aula de filosofia. A aula de filosofia será portanto dedicada ao ócio, ou seja, o momento de refletir sobre nós mesmos, analisar nossa vida diária, nossos comportamentos e atitudes, além de conhecer (compreender) melhor a nós mesmo.
Todos vocês que participarão o ócio nas aulas de filosofia, em princípio, são capazes de praticar o exercício do cuidado de si, mas, também é fato que, no geral, poucos são, efetivamente, capazes de ocupar-se consigo. Falta de coragem, falta de força, falta de resistência – incapacidade de aperceber-se da importância desta tarefa, incapacidade de executá-la: este, com efeito, é o destino da maioria. A necessidade de praticar o cuidado de si poderá ser repetida em toda parte e para todos. A escuta, a efetivação desta prática, de todo modo, será fraca. E é justamente porque a escuta é fraca e porque, seja por que motivo for, poucos saberão escutá-la, que a necessidade da prática do cuidado de si deve ser repetida por toda parte e a todo momento.